Somente nos últimos seis meses registraram uma queda de 40%. Isso significa, por exemplo, que os países membros da Organização dos Países Produtores de Petróleo (Opep) deixaram de angariar US$ 316 bilhões de dólares. Estes e outros países que não fazem parte da organização mundial também sofrerão uma severa redução de suas receitas que os obrigarão a realizar ajustes econômicos dolorosos e impopulares.
Quanto à China, cada dólar a menos significa uma economia anual de US$ 2,1 bilhões. A agricultura mundial também vai se beneficiar. Um dólar de produção agrícola consome cinco vezes mais energia do que um dólar de produção no setor de manufatura.
A oferta aumentou de modo espetacular graças às novas tecnologias de exploração de jazidas que vêm sendo amplamente utilizadas nos Estados Unidos. De 2008 até o momento os Estados Unidos aumentaram sua produção de petróleo em 80%, superando o total da produção de cada um dos países da Organização dos Países Exportadores de Petróleo, exceto a Arábia Saudita.
Ninguém sabe o quão permanentes serão as condições que vêm pressionando para baixo os preços do produto. Mas é certo que eles oscilarão e poderão voltar a subir por razões diversas, como guerras, revoluções, acidentes climáticos, econômicos, políticos, etc.
Um indicador dos preços é o mercado de futuros. O preço de um barril de petróleo para entrega em 2020 está cotado em torno de US$ 85. O valor atual é de menos de US$ 70 o barril. Operadores internacionais do mercado mais pessimistas estão oferecendo contratos de entrega para dezembro de 2015 ao preço de US$ 40 o barril.Se isso se revelar correto as consequências serão enormes.
Entre os países produtores de petróleo o choque provocado pelos preços baixos afetará mais severamente a Venezuela e o Irã. Se o governo da Venezuela não conseguiu manejar sua economia quando o barril de petróleo custava mais de US$ 100, dificilmente fará um trabalho melhor com o barril a US$ 62 (o petróleo venezuelano é mais barato do que a média mundial).
Crise. Para fazer frente a seus gastos públicos, o governo de Caracas necessita que o preço do produto seja superior a US$ 120 dólares o barril. A crise venezuelana pode obrigar o governo a limitar suas remessas de petróleo subsidiado para países vizinhos, provocando uma grave crise econômica em Cuba e Jamaica, entre outros.
No Irã, a redução dos preços das exportações do seu petróleo vem se somar às sanções internacionais (impostas em razão do programa nuclear iraniano) que já afetam duramente a economia do país. Na verdade, é provável que os preços menores tenham um impacto até maior do que as sanções diante da importância do petróleo para as receitas do governo de Teerã. Resta saber se a crise econômica levará o Irã a buscar um acordo nuclear com a comunidade internacional para, assim, conseguir uma redução ou eliminação das sanções econômicas. Mas também é possível que as considerações políticas pesem mais na conduta do aiatolá Ali Khamenei do que a má situação econômica que já vem se abatendo sobre a população.
Algo parecido sucede na Rússia. A economia russa já vinha sendo afetada por um clima adverso aos investimentos, uma fuga em massa de capitais e as sanções impostas pela Europa e pelos Estados Unidos (em razão da intervenção de Moscou na Ucrânia). O rublo desvalorizou, a bolsa de valores despencou, a inflação subiu e a economia entrou em recessão. O ano de 2015 será difícil para o presidente Vladimir Putin e mais ainda para o povo russo.
Estas são apenas algumas das repercussões da queda dos preços do petróleo. Há muitas mais. Mas talvez o mais importante é que, a este preço, muitas fontes de energias menos poluidoras (solar, eólica, etc.) ficam mais caras e não podem competir com o petróleo.
Os preços baixos também não incentivam a economia e a eficiência energéticas. E o resultado irônico é que na época em que os preços do petróleo estavam altos eles estimularam mais o surgimento de novas formas de produzir petróleo do que o uso de energias limpas e renováveis.
(Fonte: Moisés Naím / Estado de S.Paulo)