Em meio às discussões envolvendo o setor sucroenergético e o governo para o aumento da mistura de etanol anidro à gasolina e o retorno da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide), a diretora-presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), Elizabeth Farina, relatou nesta quinta-feira a dificuldade de diálogo entre produtores e a presidente Dilma Rousseff.
A executiva afirmou hoje “que uma das implicâncias da presidente (Dilma) é que ela acha que setor é incompetente”. “Ela tem em mente que o problema das usinas é a falta de gestão”, disse no Simpósio de Agronegócio e Gestão, na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP).
Na avaliação do setor, a falta de competitividade do etanol é provocada, por exemplo, pelo controle dos preços do combustível de petróleo pelo governo para frear a inflação, inclusive por meio da retirada da Cide incidente sobre a gasolina.
Durante o Simpósio de Agronegócio e Gestão, em Piracicaba (SP), a diretora-presidente da Unica citou como exemplos usados por Dilma para justificar a má gestão do setor as perdas ocorridas na colheita mecânica cana, que atingem a competitividade do etanol. A perda ocorreria pelo fato de a máquina cortar a cana “muito alto”, ou seja, ainda deixar parte da planta que poderia produz mais combustível na lavoura. “Ela vê isso como um problema de gestão”, lamentou.
Outra “birra da presidente” segundo a executiva da Unica, é achar que as usinas evitam cortar e processar lavouras cana-de-açúcar entre uma safra e outra para que haja um controle na oferta de etanol na entressafra. Na verdade, a chamada “cana bisada” não é colhida ao final da safra por conta do início do período de chuvas, que torna inviável economicamente e até impossível a colheita mecânica da matéria prima nas lavouras. “Mas existem espaço para mostrarmos a ela todos os avanços do setor nos últimos anos, com inovação e o esforço pela melhoria dos resultados. O setor tem fundamentos tão bons que temos argumentos para convencê-la”, afirmou a diretora-presidente da Unica.
A executiva avaliou que o setor deve ser beneficiado indiretamente pela mudança na política macroeconômica no segundo mandato de Dilma, com a o ajuste fiscal anunciado pelo futuro ministro da Fazenda, Joaquim Levy. “Parte do descontrole fiscal tem a ver com desonerações e, entre elas, o fim da Cide. Se a gestão macroeconômica vai ao maior equilíbrio das contas públicas podemos recuperar a Cide e o diferencial tributário recuperará parte de competitividade do etanol”, disse Elizabeth Farina.
A diretora-presidente da Unica voltou a cobrar regras estáveis para o setor e afirmou que a falta delas prejudica até mesmo o processo de fusões e aquisições entre usinas. Indagada sobre o aumento da mistura, ela citou a pressão da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) por mais testes em veículos exclusivamente a gasolina e importados. “O setor está pronto para garantir abastecimento já em dezembro com aumento na mistura do etanol à gasolina”, reafirmou.
Kátia Abreu
Por fim, Elizabeth considerou positiva a possível escolha da presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), senadora Kátia Abreu (PMDB-TO), para ser ministra da Agricultura. “Ela será boa ao setor por ser próxima a Dilma e conhecer o agronegócio. É uma pessoa corajosa e incisiva”, concluiu.
Fonte: Estadão Conteúdo