Os consumidores começam a colher os frutos da desaceleração dos preços no atacado, influenciada pela valorização do real frente ao dólar e pelo forte recuo dos preços agrícolas. Índices de inflação ao consumidor relativos a primeira quinzena de junho, divulgados ontem, refletem, com alguma defasagem, o cenário positivo visto no atacado desde maio. A tendência é de que os indicadores recuem ao longo do mês, mas voltem a subir em julho e em agosto, com o reajuste das tarifas de energia elétrica.
O Índice de Preços ao Consumidor (IPC), medido pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), ficou em 0,07% na segunda quadrissemana de junho, menor taxa desde a primeira medição de abril do ano passado.
O resultado foi influenciado pela deflação de 0,24% nos preços de alimentos, com destaque para os in natura, que cederam 2,92%, e para os transportes, com queda média de 0,32%. Neste grupo, chama atenção o tombo de 14,8% no valor do álcool combustível. Se não fossem as variações negativas dos combustíveis, os transportes teriam apresentando alta de 0,57% no mês, calcula a consultoria Rosenberg & Associados.
No Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S), apurado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), a inflação recuou de 0,61% para 0,24% na semana de 15 de junho, o menor percentual desde a quarta semana de outubro de 2004.
Pela primeira vez neste ano, o grupo alimentação apresentou variação negativa de 0,20%, sendo que dos 21 itens que compõem o setor, em 15 a inflação desacelerou. Assim como no indicador da Fipe, os transportes também recuaram, com deflação de 0,06%. Os preços da gasolina e do álcool caíram 5,89% e 6,81%, respectivamente, refletindo a boa safra de cana-de-açúcar.
Mas as boas notícias não ficaram restritas a devoluções de altas anteriores, caso dos alimentos, nem a quedas sazonais, caso do álcool. Na Fipe, o índice de difusão, que mede a quantidade de produtos em elevação, tem caído sistematicamente desde a terceira quadrissemana de maio, quando bateu em 67%. Agora em junho, ele cedeu para 58%.
A cesta de produtos industrializados também arrefeceu e subiu 0,56%, após fechar maio em 0,63%. “A demanda ainda está aquecida, prova disso são os industrializados que permanecem em um patamar elevado. Porém, o câmbio tem segurado os preços”, diz Paulo Picchetti, coordenador da pesquisa de preços da Fipe.
O economista ressalta que a alta vem mais da recomposição de margem por parte das empresas do que por uma pressão pelo lado do consumo. Ele lembra que o núcleo do IPC está em 0,28%, bem acima do número da segunda quadrissemana do mês. Para o fechamento de junho, ele espera uma variação nula (0%) para o IPC.
Para o economista-chefe do ABN Amro Bank, Mário Mesquita, o momento é de acomodação da demanda e de uma inflação comportada, com repasses de preços mais limitados. “Estamos recebendo os benefícios da queda dos preços no atacado”, diz. Sua previsão para junho do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que serve para balizar a meta de inflação, é de 0,24%. Para julho, no entanto, a expectativa é maior, pois o mês trará reajustes de energia. No IPC da Fipe, o aumento desse serviço só é contabilizado em agosto.