Agricultura

Fim da queima da cana 'abre' áreas em SP

Fim da queima da cana 'abre' áreas em SP

Com o progressivo fim da queima da cana-de açúcar até 2017, São Paulo terá 110 municípios com áreas de mais de mil hectares que poderão ser ocupadas pela pecuária ou outras culturas agrícolas. Espalhados pelo Estado, esses municípios terão 256 mil hectares à disposição, ou 70% de toda a área que será aberta no território paulista por conta do fim da cana – 369 mil hectares no total, em 482 cidades.

O maior potencial para novas atividades agropecuárias se concentra em 20 municípios, onde espaços maiores serão criados pela restrição ambiental. Juntos, eles abrigam 95 mil hectares encravados em terrenos superiores a 12% de inclinação – e, portanto, impróprios para o plantio mecanizado, já que a utilização de colheitadeiras é inviável.

Os números fazem parte de um estudo, baseado em imagens feitas por satélite, realizado pelo Grupo de Inteligência Territorial Estratégica da Embrapa a pedido da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). “Esse levantamento abre uma possibilidade real de diversificação da agricultura em São Paulo”, afirmou ao Valor o coordenador do levantamento, o pesquisador Evaristo de Miranda.

Ele pondera que a ocupação dessas áreas por outras culturas dependerá de fatores como o retorno do investimento, os custos de produção e o preço da terra. Mas afirma que o potencial identificado leva em conta o crescimento de atividades já existentes nas respectivas regiões, o que pode impulsionar as alternativas à cana.

Miranda lista, por exemplo, o potencial de investimento em pecuária de corte e leite na microrregião de Campinas. É o caso também de Piracicaba, distante cerca de 160 quilômetros da capital paulista e importante polo sucroenergético, onde há 8,5 mil hectares de canaviais localizados em terrenos com muito declive.

Outra das cidades que mais podem liberar áreas para outras culturas é São Manuel, na região de Sorocaba, com 7,8 mil hectares de canaviais em terrenos acidentados. Por lá, a expectativa é de expansão da produção de madeira e celulose, já que indústrias do ramo como Votorantim e Suzano já operam nos arredores.

Em seguida aparecem Batatais (7,7 mil hectares em áreas de declive acentuado), localizada no entorno de Franca, no nordeste paulista, onde a expansão do cultivo de café é uma alternativa, e Descalvado (6,2 mil hectares), na região central do Estado, onde poderão ser criadas boas oportunidades para a fruticultura (goiaba, manga, pêssego e laranja).

“O que vai acontecer primeiro é a ocupação de várias áreas com pecuária, pois é mais simples e envolve menos custo. Mas, depois, deverá haver cultivo de frutas e eucalipto associados a indústrias existentes ou novas”, avalia o diretor do Departamento do Agronegócio (Deagro) da Fiesp, Benedito Ferreira.

O presidente da Orplana, associação que reúne plantadores de cana do Centro-Sul, Manoel Ortolan, é mais cauteloso. “Pode ser que só um pedaço da propriedade esteja em área de declive e outro não – e há casos de terrenos com 13% de declive em que a colheitadeira sobe”, afirma.

(Fonte: Valor Econômico)