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Aos 39 anos, programa do etanol ainda continua sem regras claras

Aos 39 anos, programa do etanol ainda continua sem regras claras

Em 14 de novembro de 1975, há exatos 39 anos, o presidente Ernesto Geisel criava o Pro-Álcool pelo decreto 76.593. Sete governantes assumiram o país depois dessa data e o programa ainda não tem regras claras e uma política de longo prazo.

Apesar dessa caminhada sem definições, os números do programa são representativos. A utilização do etanol para fins combustíveis permitiu uma substituição de 2,3 bilhões de barris de gasolina, o correspondente a 370 bilhões de litros.

Nesse mesmo período, o volume de gasolina substituída por etanol represen- tou uma diminuição de US$ 299,6 bilhões nas importações brasileiras.

Os dados são de Plinio Nastari, da Datagro, empresa especializada nesse setor.

Para mostrar a importância dos números, Nastari diz que as reservas nacionais comprovadas de petróleo são de 14,7 bilhões de litros, enquanto as reservas externas do Banco Central estão em US$ 377 bilhões.

O Pro-Álcool, apesar do sobe e desce nesses 39 anos, correspondeu às expectativas do porquê foi criado. Um dos motivos foi a substituição de gasolina por etanol. E os números mostram essa intensa substituição.

Além disso, estava embutida no programa original a criação de polos regionais. A cana viria a substituir a pecuária extensiva, gerando mais emprego e mais renda no interior. “E esses polos foram criados, sendo um bom efeito multiplicador e incentivando comércio e indústrias locais”, diz Nastari.

A criação do programa de substituição de álcool por gasolina ganhou corpo com o choque do petróleo, quando, em curto prazo, o preço do barril saiu de US$ 2 para US$ 12. As importações de petróleo representavam uma sangria nas contas do país.

As semelhanças do início do Pro-Álcool com o momento atual são grandes. O programa surgiu, também, pela preocupação do setor privado em buscar uma alternativa à falta de nafta petroquímica, um problema que se repte hoje devido ao desvio do petróleo para a produção de gasolina, aponta Nastari.

Além disso, com as dificuldades econômicas do país na década de 1980, o governo mantinha um controle nos preços das tarifas públicas, entre elas a gasolina, para controlar inflação.

O auge da crise no setor foi em 1989, quando algumas regiões tiveram problemas de abastecimento e o governo passou a fazer um controle da distribuição do álcool.

Esse controle se estendia aos preços da cana, do álcool e das cotas de exportação de açúcar no período. A oferta do etanol diminuiu, o que levou à interrupção de combustível em algumas regiões, gerando uma desconfiança do consumidor.

A extinção do IAA (Instituto de Açúcar e Álcool) na década de 1990 eliminou a intervenção do governo so-bre os preços, inclusive do etanol.

Após um período de aprendizado com o mercado livre, o setor sucroenergético e as indústrias automobilísticas desenvolveram o carro flex.

Com a opção da utilização de gasolina e de etanol –e os preços competitivos desse último–, as vendas de carros flex aumentaram, impulsionando a produção.

Passados 39 anos do programa, a política atual tem uma forma distorciva, que incentiva a utilização da gasolina e inibe uma recuperação do etanol, segundo Nastari.

“É uma perda de oportunidade para o país, que poderia estar à frente das negociações globais sobre o ambiente em um momento em que aumentam as discussões sobre o tema.”

Fonte: Folha de S. Paulo

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