As exportações, a indústria de alimentos e uma pequena expansão nas vendas internas, em maio, são as explicações para o crescimento da demanda no mês passado, dizem os economistas. Embora as vendas do comércio tenham desacelerado, tanto em comparação a abril quanto a maio do ano passado, a demanda continuou a crescer na indústria e no agronegócio.
“A exportação de açúcar foi enorme em maio”, comenta Nélson Martin, pesquisador do Instituto de Economia Agrícola de São Paulo (IEA). Martin diz que o processamento de cana, para fazer açúcar e álcool, está de 15% a 20% superior a igual período do ano passado. De janeiro a maio deste ano, diz, “a exportação de carne bovina cresceu 29%; de carne suína, 40%; e de carne de frango, 32%”. Atualmente, explica, o Brasil exporta carnes para 152 países. A maioria das exportações vai para a Europa, outros países da América Latina, Ásia e Oriente Médio.
O aumento nas vendas do agronegócio, diz, ocorreu principalmente pelo aumento das exportações, mas também, em menor escala, por um pequeno crescimento do mercado interno em maio. “Houve o aumento do salário mínimo, que teve impacto positivo para o varejo e a indústria de alimentos”, afirma. Já os agricultores não ligados à exportação, ou que dependem do cultivo de grãos, não estão indo bem. “Houve quebra na safra”, lembra o especialista.
“Uma coisa é a agricultura. Outra é a agroindústria. As duas estão muito ligadas, mas uma vai mal e a outra vai bem. Houve quebra de safra e a renda agrícola caiu. Por isto, a situação dos agricultores é ruim. Já a agroindústria que exporta, vai bem”, diz Emílio Alfieri, economista da Associação Comercial de São Paulo (ACSP).
Nos segmentos da indústria e do comércio, os economistas dizem que a situação da economia só ficará mais clara no segundo semestre deste ano.
“Estamos em transição. No segundo semestre, as coisas vão se definir. Ou o País vai para a estagnação, ou o crescimento será retomado”, diz Alfieri. Segundo ele, não há um quadro bem definido para o mercado interno, ao contrário dos dois últimos anos. “Em 2003, quase todo mundo estava em recessão e estagnação. Já em 2004, foi o contrário, quase todo mundo estava vendendo bem. O que notamos é que 2005 é diferente. Alguns setores do comércio continuam com expansão de vendas, como o varejo de veículos e de produtos eletroeletrônicos, caso dos telefones celulares. Outros, como o varejo de calçados e roupas, sentem sinais de retração”, diz. Segundo ele, o calor atípico em junho prejudica as vendas de vestuário e calçados.
“A desaceleração não é uniforme. Alguns setores desaceleram na indústria e no comércio, outros crescem”, comenta o economista.
“Não podemos dizer que a economia está desabando. Ela ainda cresce, mas não repete o desempenho do ano passado”, diz o economista Júlio Gomes de Almeida, diretor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). “Sem dúvida, o quadro só será definido no segundo semestre”, comenta Almeida. Segundo ele, a demanda externa está ajudando a indústria a manter o nível de atividade, “mas não crescer. Em maio, pode ter ocorrido uma expansão sazonal da indústria, motivada pelo mercado interno”.