O avanço desses produtos no exterior ajudam a explicar o bom desempenho da balança comercial. Com exceção da soja e seus derivados (óleo e farelo), todos os 20 primeiros itens do ranking de embarques brasileiros tiveram incremento nas cotações médias apuradas no acumulado de janeiro a abril, de acordo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex). Aparecem em destaque o minério de ferro, com valorização de 22% no período, produtos semimanufaturados de ferro ou aço (+62%), laminados planos de ferro ou aço (+90,8%), café (+52,6%), açúcar (+29%), aparelhos transmissores ou receptores (+182%), óleo diesel (+33,7%) e ferro fundido bruto e ferro gusa (+84,6).
O avanço desses produtos no exterior – que além de terem suas cotações valorizadas, estão conseguindo, em sua maioria, elevar o volume embarcado – ajudam a explicar o bom desempenho da balança comercial este ano. Em maio, as exportações bateram novo recorde mensal, de US$ 9,82 bilhões (28% acima de igual período de 2004), embora o saldo comercial, de US$ 3,452 bilhões, tenha ficado um pouco abaixo do obtido em abril (de US$ 3,876 bilhões).
No acumulado até maio, as vendas atingiram US$ 43,47 bilhões, 28% a mais que o valor de mesmo período de 2004. No intervalo de 12 meses terminados em maio, os embarques totalizaram US$ 106 bilhões. O País precisa exportar mais US$ 6 bilhões para cumprir a meta estabelecida pelo governo para 2005, de US$ 112 bilhões.
Nos números preliminares da Secex referentes ao desempenho da exportações nacionais nos cinco primeiros meses do ano, apontam ganhos de receita com os embarques para quase todos os 20 primeiros itens da pauta de exportação – as únicas exceções ficam para soja e aviões.
Já o comportamento do dólar frente ao real registrou, no período de um ano, desvalorização de 21%, de R$ 3,10, taxa média em maio de 2004, para R$ 2,45, em maio de 2005.
Segundo o economista da GRC Visão, Alex Agostini, ainda há espaço para crescimento de preços dos produtos de maior peso na pauta de exportação. “O cenário mundial está favorável ao consumo”. Para Amir Khair, consultor de finanças públicas pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), o dólar abaixo dos R$ 2,50 não irá ofuscar os investimentos das empresas brasileiras e as vendas ao exterior. “Uma vez conquistado o mercado internacional, os empresários irão reclamar, chorar por um câmbio melhor, mas não irão deixar de exportar”, disse Khair, que prevê um superávit brasileiro para este ano de US$ 40 bilhões – valor 14% superior ao saldo previsto pelo mercado (boletim Focus), de US$ 35 bilhões, e aumento de 19% sobre o resultado de 2004, de US$ 33,7 bilhões.
Jorge Simino, analista da MB Consult, lembra que só os embarques de minério de ferro irão gerar um acréscimo de receita entre US$ 3 a US$ 4 bilhões para a pauta de exportação. Estima-se que o setor alcance receita de US$ 8,1 bilhões este ano, o que representaria um avanço de 72% sobre o valor de 2004 (US$ 4,7 bilhões). “Alguns segmentos são penalizados com valorização do real, mas, claramente, o que está dominando as exportações são os produtos ‘fortes’ da balança comercial”, disse.
O consultor da FGV elaborou um estudo em que aponta a evolução das exportações brasileiras e as oscilações da taxa de câmbio em 25 anos. Nos últimos dois anos, a taxa cambial média em valores de abril de 2005, deflacionado pelo IPCA, foi apreciada em 17,9%, de R$ 3,78 por dólar em 2002 – ano em que a moeda brasileira atingiu o seu pico de desvalorização na era do câmbio flutuante (iniciada em 1999) – para R$ 3,08 em 2004. No entanto, no mesmo período, os embarques brasileiros saltaram de US$ 60,3 bilhões para US$ 96,5 bilhões, um crescimento de 60%.
Para 2005, a previsão de Khair é de que a valorização do real frente ao dólar chegue ao pico de 18,8%, tomando como base o câmbio médio de janeiro a maio, de R$ 2,50. “Mesmo assim, diante do aumento de 27,9% das exportações nos cinco primeiros meses e fazendo uma previsão conservadora de que a taxa mensal de crescimento seja reduzida à metade nos meses restantes do ano, os embarques atingiriam US$ 114,7 bilhões, um avanço de 18,9% sobre a receita do ano passado”, afirmou.
Segundo o economista, não são só os preços que têm garantido o vigor das exportações brasileiras. “O quantum explica muito mais o crescimento histórico de nossas exportações do que os preços praticados”. Nos últimos dois anos, as exportações subiram 59,8%, tendo os preços contribuído com 29,6% e o quantum, com 70,4%. “É importante destacar que metade do crescimento do volume exportado entre 2002 e 2004 decorreu em função do aumento das vendas de produtos manufaturados”, afirmou.
Os dados dos últimos anos sinalizam que as empresas brasileiras, além de contar com vantagens como custo de mão-de-obra competitivo em escala mundial, vêm conseguindo diversificar a pauta de exportação, agregando mais valor aos embarques. “O processo de globalização exigiu dos nossos exportadores uma busca por inovações tecnológica”, disse. Na avaliação do economista e consultor da FGV, o Brasil também intensificou acordos regionais, bilaterais e multilaterais, o que ajudou a melhorar a distribuição geográfica das exportações. “O eixo EUA/Europa, que chegou a representar no passado 58% do total de nossos embarques, hoje responde por 46%”, comparou.