Mercado

Investidores "forasteiros" de olho em açúcar e álcool

Grupos financeiros estrangeiros, até agora completamente desligados de negócios com açúcar e álcool, estão interessados em investir algumas centenas de milhões de dólares no setor no Brasil. A informação é do presidente da União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (Única), Eduardo Pereira de Carvalho, que participou ontem, em Genebra, de reunião da Global Sugar Alliance, que reúne exportadores.

Conforme Carvalho, o interesse dos forasteiros se explica pelas perspectivas da indústria sucroalcooleira brasileira, já a maior do mundo e com maior potencial para ampliar sua produção e abocanhar novos mercados que se abrirão tanto em razão da liberalização do comércio prometida pela Rodada de Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC) quanto pela reforma do regime açucareiro europeu .

Caso confirmado o interesse, tais investidores estrangeiros – fundos, por exemplo – reforçarão um movimento que já começou a ser observado entre agroindústrias internacionais como a americana Cargill e grupos europeus. Também atrai esses investidores o potencial de consumo de etanol no próprio mercado brasileiro, em razão do sucesso dos carros bicombustível. Somente em maio, esses veículos representaram 49,5% das vendas totais de automóveis.

Conforme a Única, o país precisará de 7 bilhões de litros suplementares, ou 20 bilhões de litros no total, para abastecer o mercado interno em 2010. Para isso, a produção de cana, e portanto de açúcar e álcool, teria de crescer 50% nos próximos cinco anos. Carvalho prevê para os próximos anos um processo de concentração e participação do capital estrangeiro, mas com o domínio nacional ainda representativo sobre o setor.

Carvalho e o presidente do conselho da Copersucar, Hermelindo Ruete de Oliveira, representaram os produtores brasileiros na reunião da Global Sugar Alliance. Também participaram representantes da Austrália, Canadá, Chile, Colômbia, Guatemala, Honduras, Índia, África do Sul e Tailândia. No encontro, embaixadores do G-20, liderado pelo Brasil, e do Grupo de Cairns, dirigido pela Austrália, se engajaram em manter o alto nível de ambição na reforma do comércio agrícola. Para isso, a aliança delineou demandas que considera essenciais num futuro acordo global.

Em primeiro lugar, pediu a abertura substancial dos mercados, incluindo aumento das cotas (hoje restritas às exportações de açúcar) – que deveriam representar, no mínimo, 20% do consumo doméstico de países em desenvolvimento. Além disso, a aliança pede que um ano depois do acordo na OMC seja eliminado o mecanismo de salvaguarda especial, que países industrializados costumam usar para frear importações agrícolas.

O grupo também defendeu a eliminação de subsídios domésticos distorcivos ao comércio, começando com uma redução de 50% nos dois primeiros anos e o resto nos três anos seguintes; e quer o fim dos subsídios à exportação em três anos. Tudo isso fará parte das negociações. E está claro que a facilitação do acesso para o açúcar é uma das questões mais delicadas na mesa, já que se trata de um dos produtos mais protegidos em praticamente qualquer mercado.