A biomassa já responde por quase 10% da matriz energética brasileira e hoje é uma das principais linhas de pesquisa no país. Inclusive, já tem empresa produzindo a própria energia a partir da casca de arroz e de aveia. A maioria dos brasileiros pode até não saber o que é biomassa, mas ela está pertinho da gente, todo santo dia.
“Biomassa é toda matéria de origem vegetal ou animal que inclui resíduos, inclui plantações energéticas, inclui plantações de árvores, que podem ser também aproveitadas energeticamente e, até mesmo, resíduos sólidos urbanos, como, por exemplo, o lixo das cidades, resíduos rurais e resíduos de animais”, explica Suani Coelho, coordenadora do Centro Nacional de Referência em Biomassa da USP (Universidade de São Paulo).
É difícil imaginar um país com mais biomassa que o Brasil e com tanto potencial. A biomassa responde por 9,53% da matriz energética brasileira. Destaque para o bagaço de cana, resíduos florestais, lichivia, que é um subproduto da indústria papeleira, biogás do lixo e de resíduos agropecuários, casca de arroz, entre outras fontes. Mas, segundo os cientistas, o potencial de exploração energética da biomassa do nosso país equivaleria em uma conta conservadora a pelo menos quatro hidrelétricas de Itaipu.
Apenas a queima do bagaço de cana gera 10 mil megawatts. “Metade disso é para consumo próprio das usinas, mais ou menos metade é usada para ser exportada para a rede. Mas nós temos um potencial para dobrar essa exportação para a rede, portanto podemos ter mais de uma Itaipu sendo produzida e sendo injetada na rede”, aponta Suani Coelho. É recente no país a exploração do gás do lixo, como já existe nos dois principais aterros de São Paulo. O Bandeirantes e o São João já foram desativados, mas continuam gerando aproximadamente 3% de toda a energia elétrica consumida na maior cidade do país. Mas se lixo urbano gera energia, o que dizer do lixo agrícola?
Uma fábrica de aveia no Rio Grande do Sul descobriu há três anos que a casca do cereal, descartada como resíduo, poderia substituir o gás natural. Desde então, 2.500 kg de casca são queimados por hora, uma economia de 30% no consumo de energia. “Essa economia, além das mais de mil toneladas de gás efeito estufa que nós deixamos de pôr no ambiente, acaba tendo também uma economia real monetária e este é um bom exemplo em que nós produzimos de uma forma mais limpa e temos também o beneficio econômico”, afirma Manuel Ribeiro, vice-presidente de operações da PepsiCo Brasil.
A matriz da multinacional festeja o feito da filial brasileira. É a primeira unidade deles no mundo que apostou na casca de aveia e se deu bem. E o que vale para a casca de aveia, vale também para a casca de arroz. Uma fábrica na cidade gaúcha de Alegrete recebe todo o arroz produzido em um raio de 200 km. A montanha de grãos que chega lá tem dois destinos. O miolo do arroz vira alimento. A casca se transforma em 5 megawatts de energia, o suficiente para abastecer a fábrica inteira e ainda cerca de 14 mil residências.
E do processo, patenteado pela empresa, saiu ainda um novo produto: a sílica ecológica, usada para engrossar a mistura de concreto e argamassa. “Hoje essa sílica é uma realidade da empresa e nós já estamos comercializando em todos os estados da Região Sul e, inclusive, no estado de São Paulo”, informa Lucas Matel, engenheiro químico da empresa. O poder energético da biomassa é tão importante que se tornou uma das principais linhas de pesquisa da Embrapa Bioenergia, em Brasília.
Em uma parte do laboratório são guardadas amostras de biomassa que estão sendo investigadas pelos pesquisadores da Embrapa. O cavaco de madeira é um resíduo muito comum na indústria de papel e celulose no Brasil. Tem ainda o capim elefante, que já é fonte de energia na Bahia. Os gaúchos conhecem a casca de arroz queimada que vira energia renovável e a estrela de todas as biomassas de origem vegetal: o bagaço de cana. O objetivo das pesquisas é abrir novos caminhos no mercado para essas e outras fontes de energia vegetais.
Todas as amostras do laboratório são trituradas em máquinas especiais. Depois, esses equipamentos medem o quanto de energia cada uma é capaz de gerar. Os resultados são animadores. “A grosso modo, falando, a gente poderia, com as tecnologias que temos hoje, talvez ter mais duas ou três ou mesmo quatro Itaipus de biomassa. Em uma época em que a energia está tão cara e tão escassa, isso faz diferença”, diz José Dilce Rocha, pesquisador da Embrapa Agroenergia em Brasília. No país do pré-sal, não é preciso buscar nem muito fundo, nem muito longe, energia limpa e renovável barata e farta. Basta prestar atenção no que está por aí.
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(Fonte: Jornal da Globo)