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Continua a pressão por apoio ao etanol

Continua a pressão por apoio ao etanol

Apesar de ser encarado por muitos analistas como apenas temporário, o fim da defasagem entre os preços da gasolina nos mercados doméstico e internacional reduziu as expectativas dos produtores de etanol em relação a um eventual reajuste do combustível no país após o segundo turno da eleição presidencial. O cenário, contudo, reacendeu as discussões com o governo de que o momento pode ser propício para a retomada da cobrança da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) na gasolina. Segundo fontes do segmento, o Planalto poderá adotar a medida ainda neste ano.

Neste momento, a gasolina vendida no Brasil está 2,1% mais cara que a comercializada no mercado internacional. Esse percentual tende a ficar entre 5% e 16% nos próximos três a quatro meses, a depender das cotações do barril do petróleo e do câmbio, segundo cálculos da Datagro. Porém, Plinio Nastari, presidente da consultoria – que ontem promoveu o segundo e último dia de sua conferência anual, em São Paulo -, destacou que, na média, de janeiro a setembro deste ano o preço da gasolina no mercado interno ficou 17,5% mais baixo que no front externo.

A remuneração oferecida às usinas pelo etanol hidratado, que é usado diretamente nos tanques dos veículos, depende diretamente do preço da gasolina. Um reajuste no derivado fóssil, portanto, teria reflexos diretos nas margens do hidratado. Para manter sua competitividade, o etanol hidratado tem de custar, nos postos, no máximo 70% do valor cobrado pela gasolina, em um cálculo que leva em consideração a diferença média de rendimento energético entre os dois combustíveis.

Independentemente dessa discussão, o presidente da Raízen, Vasco Dias, discorda que a defasagem entre os preços da gasolina no país e no exterior tenha de fato acabado. “A diferença entre o preço interno da gasolina e o internacional está em 8%. Há um grande efeito do dólar”, observou o executivo durante o evento da Datagro. Assim, afirmou Dias, um aumento da gasolina terá que ser feito, seja qual for o próximo presidente.

Na visão de Plinio Nastari, o fim da defasagem não enfraquecerá a posição dos que defendem o reajuste da gasolina no mercado interno. “Há uma grande necessidade de recomposição do caixa da Petrobras. Disso depende a recuperação de sua capacidade de crescimento”, disse.

Luiz Mendonça, presidente da Odebrecht Agroindustrial, braço sucroalcooleiro da Organização Odebrecht, é um dos que acreditam que a redução da defasagem – que, para ele, é temporária -, pode estimular o governo brasileiro a tentar recuperar a competitividade do etanol por meio da volta da cobrança da Cide na gasolina. Além disso, afirmou, o momento é propício para, finalmente, o governo implantar uma fórmula que permita um alinhamento maior entre os preços da gasolina no país e no exterior.

Segundo as fontes que afirmam que o governo estuda o retorno da Cide na gasolina – a cobrança chegou a ser equivalente a R$ 0,28 por litro, em janeiro do ano passado -, o processo será gradativo. O valor da cobrança da Cide no combustível fóssil começou no começo de 2012, e a contribuição foi zerada em julho de 2013, para amortecer os reajustes feitos nas refinarias.

Para Luís Roberto Pogetti, presidente do conselho de administração da trading Copersucar, o segmento sucroalcooleiro não pode abrir mão do etanol hidratado. Em 2014, notou o executivo durante a conferência da Datagro, esse mercado será de 16 bilhões, ou R$ 21 bilhões. “É o equivalente a 20 milhões de toneladas de açúcar. Se a situação está difícil com o hidratado, sem ele o setor sucumbe”, afirmou ele.

(Fonte: Valor Econômico)