Uma injeção de recursos já na reta final da campanha presidencial está ajudando o candidato Aécio Neves (PSDB) a levar a disputa com a presidente Dilma Rousseff (PT) até o último instante, e erodindo a vantagem financeira da atual mandatária. Muitos dos bancos, das empreiteiras e empresas de etanol que lideraram as contribuições a Aécio dobraram a aposta no senador mineiro no mês passado, quando sua disparada nas pesquisas pouco antes do primeiro turno o transformou de carta quase fora do baralho a adversário real.
A arrecadação total de Aécio quase duplicou em setembro, chegando a cerca de 140 milhões de reais, de acordo com o tesoureiro de campanha, José Gregori. “Vimos as contribuições de muitos dos mesmos doadores acelerando”, disse Gregori em entrevista por telefone. “Instituições financeiras, prestadores de serviço e empreiteiras… não esperaram até o segundo turno para doar.”
Os novos recursos ajudaram a bancar uma intensificação na campanha de Aécio, aumentando a exposição do ex-governador de Minas Gerais e o colocando em um empate técnico com Dilma a pouco mais de uma semana do segundo turno. Aécio já conquistou muitos investidores e líderes empresariais prometendo restaurar a disciplina fiscal, conter a inflação e reanimar estatais para tirar a economia brasileira da recessão.
Ainda assim, será difícil superar o superávit de financiamento acumulado por Dilma nos primeiros meses da campanha, impulsionado pela vantagem natural do exercício do cargo e de ter liderado as pesquisas iniciais. As políticas de isenções fiscais e os empréstimos baratos a setores econômicos selecionados também formaram uma base de apoio leal para a presidente em algumas indústrias.
Dilma e o comitê nacional do PT tinham arrecadado mais de 185 milhões de reais até o início de setembro, segundo os dados de campanha mais recentes publicados pelo Tribunal Superior Eleitoral. Mas desde então a porta-voz do PT se recusou a comentar o financiamento e recusou um pedido de entrevista com o tesoureiro de campanha de Dilma.
Aécio e o PSDB levantaram cerca de 71 milhões de reais até o começo de setembro. À época, ele tinha cerca de 15 por cento das intenções de voto e parecia fora do segundo turno, bem atrás da candidata do PSB, Marina Silva. Muitos dos maiores apoiadores de Aécio também apoiavam Marina quando as pesquisas a mostravam com chances maiores de derrotar Dilma, mas à medida que ela perdia a dianteira, no final de setembro, sob uma saraivada de ataques, eleitores e doadores em busca de um novo presidente debandaram para o lado de Aécio.
ÂNSIA POR MUDANÇA
Uma análise do financiamento das campanhas mostra que Aécio se saiu melhor com setores descontentes com o que veem como políticas excessivamente rígidas de Dilma. Os produtores de etanol, por exemplo, passaram anos se queixando por não poderem competir com a gasolina porque o governo Dilma segurou os preços oficiais dos combustíveis e descartou um imposto já tradicional da gasolina para controlar a inflação.
Embora Aécio só tenha atraído um quarto das contribuições destinadas aos principais concorrentes à Presidência, segundo os dados mais recentes sobre financiamento público, na indústria de etanol ele empata com Dilma.
A Copersucar, maior exportadora brasileira de açúcar e etanol, doou 1 milhão de reais à campanha de Aécio e nada para Dilma. Representantes da empresa e da maioria das outras companhias mencionadas na reportagem não responderam perguntas sobre suas contribuições. Uma vitória de Aécio também poria fim a anos de relacionamento tenso e muitas vezes hostil entre o governo e os bancos privados.
Dilma acusou estas instituições de cobrar taxas de juros exorbitantes e advogou empréstimos agressivos de bancos públicos em segmentos que considera mal atendidos pelos credores particulares. Um das peças de propaganda da campanha petista alerta para um Banco Central legalmente independente mostrando uma sala escura repleta de banqueiros tramando enquanto a comida desaparece da mesa de uma família.
Aécio se deparou com um apoio generoso no setor financeiro, incluindo contribuições de 700 mil e 500 mil reais do Banco BMG e da seguradora Porto Seguro SA PSSA3.SA, que não doaram a Dilma.
“BOLSA-EMPRESÁRIO”
A presidente tem tido mais sorte com as empresas que se beneficiaram de uma onda de novos empréstimos do BNDES ao longo dos últimos 12 anos de governo sob o comando do PT. Dilma e Lula estimularam o banco de desenvolvimento a emprestar liberalmente para os assim chamados campeões nacionais, como a cervejaria AmBev SA ABEV3.SA e a processadora de carne JBS SA JBSS3.SA, que utilizaram os empréstimos subsidiados para concretizar uma série de fusões no Brasil e no exterior.
Aécio e seu provável ministro da Fazenda, o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, questionam o papel atual do BNDES, prometendo mais transparência e o fim do que classificam como “bolsa-empresário”. O Grupo JBS deu pelo menos 25 milhões de reais para a campanha de Dilma, quase cinco vezes mais que sua contribuição a Aécio, de acordo com os dados públicos mais atuais, e a Ambev e suas subsidiárias entraram com 8 milhões de reais, mais do que o dobro do que ofereceram ao mineiro.
Mesmo atrás da presidente em termos de financiamento oriundo das maiores empresas brasileiras, Aécio amealhou mais que o dobro de Dilma em contribuições de doadores individuais, em parte devido ao amplo apoio dos brasileiros mais ricos. Para os dois candidatos, a maior fonte de doações é de longe a indústria da construção, que usufrui de projetos de infraestrutura bancados pelo governo e contabiliza cerca de metade das contribuições para cada campanha.
Até o início de setembro, a Andrade Gutierrez tinha dado quase 17 milhões de reais para Dilma e cerca de 12 milhões para Aécio. A OAS, maior doadora do setor, ofereceu 30 milhões de reais à presidente, mais de cinco vezes mais que a doação para seu concorrente. Em comunicados distintos, representantes de Ambev e Andrade Gutierres disseram que as companhias visam apoiar o debate democrático ao doar para vários partidos.
Fonte: (Reuters)