O aumento da substituição de insumos nacionais por importados via “drawback” (importação de insumos voltados para a exportação sem o pagamento do Imposto de Importação, do IPI e do ICMS) é uma das estratégias que os exportadores brasileiros têm usado para suavizar a perda de competitividade provocada pela valorização do real.
Dados da Receita Federal levantados a pedido da Folha mostram que a participação desse mecanismo no total das importações passou de 10,91%, no final de 2004, para 11,32% no fim de abril. Uma alta discreta, mas que, para especialistas de comércio exterior, já mostra um tendência importante.
“Temos que buscar a sobrevivência. Usamos mais “drawback” para diminuir os custos e não diminuir tanto a rentabilidade do setor”, avaliou José Augusto de Castro, da AEB (Associação Brasileira de Comércio Exterior).
“O “drawback” tem sido importante para empresas que usam muito insumo importado”, diz Fernando Ribeiro, da Funcex (Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior). Com o dólar mais barato, essas empresas têm aproveitado para importar matérias-primas mais baratas. “Já comecei a usar mais “drawback” a partir da metade de 2004 para evitar ainda mais prejuízos por causa da alta do real”, afirmou Humberto Barbato, diretor de comércio exterior do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) e de uma indústria de eletrônicos.
Segundo a Funcex, o setor de equipamentos eletrônicos foi um dos que registraram a maior perda de rentabilidade no primeiro trimestre deste ano, 21,8%. Mas é o segmento de extração de minerais metálicos, que, em 2005, tem os maiores índices de utilização de importação com uso de “drawback”. Até abril, a fatia do total importado era de 63,50%.
O reajuste de preços é outra medida empregada pelos exportadores para contornar a variação cambial. Em abril, os aumentos dos preços de laminados de aço, óleos combustíveis, café em grão, açúcar e minério de ferro, por exemplo, impulsionaram o saldo comercial. “Mas isso só é válido para produtos com alta elasticidade de preço e demanda”, disse Roberto Giannetti da Fonseca, diretor do departamento de Comércio Exterior da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo). Ou seja, para produtos com grande apelo no mercado internacional. Setores com custos baixos de produção, como o siderúrgico, ou com grande valorização no mercado internacional, como o petroquímico, também têm passado praticamente incólumes pela depreciação do dólar.
Há também os exportadores que, a despeito de oscilações cambiais, não podem simplesmente abandonar o mercado exterior. Esse é o caso de empresas que fornecem componentes para a matriz no exterior, típico da indústria automotiva. Também acontece em contratos de exportação de longo ciclo de maturação. Exportações de bens de capital contabilizadas na balança hoje podem ter sido contratadas há 4 ou 5 anos.
A falta de dinamismo do mercado interno também ajuda a empurrar as exportações. “O mercado doméstico não tem como absorver o esforço de produção de quem está exportando”, argumenta Barbato, do Ciesp.