Panorama Setorial, Programas ambientais e escalada dos preços do petróleo aquecem o mercado internacional. A indústria de álcool vive uma de suas melhores fases, com o mercado interno em expansão e um crescimento explosivo da demanda externa. Os embarques estão sendo incentivados pela necessidade de adequação de países e de empresas a programas ambientais, que exigem a geração de energia com menor presença de poluentes, e pelas características do produto, fonte alternativa para a alta dos preços do petróleo. “O preço do petróleo (mais elevado) e razões ambientais podem alavancar o consumo de álcool no mercado internacional”, afirma Antônio de Pádua Rodrigues, diretor técnico da União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (Unica).
Vários países estão adotando o uso de etanol em um programa inicial de substituição parcial da gasolina. A tendência é de a adesão se propagar, principalmente com a entrada em vigor, em março passado, do Protocolo de Quioto. O documento visa reduzir a emissão de gases entre 2008 e 2012 em, pelo menos, 5,2% em relação aos níveis registrados em 1990.
“A difusão do álcool como oxigenante à gasolina cria um mercado para combustível e transforma o produto em commodity”, diz José Nilton de Souza, coordenador geral de açúcar e álcool do Departamento da Cana-de-Açúcar e Agroenergia (DCAA), do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).
No ano passado, as exportações brasileiras de álcool atingiram 1,926 milhão de toneladas, o triplo do volume registrado em 2003, de acordo com a Secretaria do Comércio Exterior (Secex), do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC). O total embarcado em 2004 chega perto da soma de todas as exportações de álcool realizadas entre 2000 e 2003.
Em litros, o volume de álcool exportado na safra 2004/05 totaliza 2,4 bilhões de litros. A projeção é de as exportações baterem a casa dos 5 bilhões de litros em 2010, número considerado conservador pelo setor, que se baseia na projeção feita pela Petrobras de que os embarques naquele ano poderão chegar a 8 bilhões de litros.
O crescimento da demanda pelo álcool brasileiro contribuiu para reverter a balança comercial do setor. Depois de chegar ao seu mais alto patamar de saldo negativo em 1995, com US$ 364,8 milhões, o setor registrou uma contínua redução nas compras até sair do vermelho, em 1998. Mas ainda manteve-se em ritmo lento e oscilante até 2001. Somente a partir de 2002 as exportações começaram a ganhar mais força, com um salto mais expressivo em 2004, quando somou US$ 497,7 milhões.
Desafios
Apesar da acentuada expansão, agentes do setor avaliam como um desafio a garantia de um abastecimento sustentável de álcool para o mercado internacional. Paulo Morceli, técnico da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), alerta que, para atender à demanda crescente no mundo, o Brasil vai precisar assegurar sua fonte de produção.
O produto, originado das lavouras agrícolas, está sujeito às oscilações climáticas, além de depender de uma rígida condução nos tratos das culturas nos campos de plantação. No caso do álcool, o mercado interno apresenta instabilidade devido à dependência da produção de sua matéria-prima, a cana-de-açúcar.
“A indústria precisa de um planejamento estratégico para assegurar o fornecimento de álcool”, diz o diretor comercial do grupo J. Pessoa, Fernando Perri. “Chegou a hora de dar um salto de qualidade e pensar em um horizonte de 10 a 15 anos. O setor tem de deixar de ser exportador de excedentes, saber quais são os mercados interessantes e dominar os canais no mundo”.
De acordo com o executivo, uma estratégia importante é realizar o gerenciamento dos estoques para os diferentes destinos e obter um crescimento sustentado. Em caso de aumento mais acelerado de vendas internas de carros, as usinas comprometidas com o mercado internacional devem ter o produto disponibilizado para todos os clientes.
Destinos
Vários países aumentaram acentuadamente a compra de álcool do Brasil em 2004. O acréscimo de etanol à gasolina em diversos países representa um grande potencial de aumento do consumo do produto no mundo. A Índia é o maior comprador de álcool do Brasil, cuja liderança foi conquistada em 2004, quando registrou 382,873 mil toneladas. Em igual ano, os Estados Unidos foram o segundo maior importador do produto brasileiro, com 339,66 mil toneladas.