Em um movimento que consolida a estratégia de diversificação dos negócios, a sueco-finlandesa Stora Enso está investindo € 32 milhões (US$ 43 milhões) na construção de uma fábrica demonstração de um tipo de açúcar, a xilose de alta pureza, obtida a partir de bagaço de cana, nos Estados Unidos.
Uma das maiores fabricantes europeias de celulose e papel, a Stora poderá iniciar, em 2017, a comercialização de xilose, usada como insumo em diferentes indústrias, ou de um produto de maior valor agregado obtido a partir desse açúcar, entre os quais o xilitol – adoçante usado em gomas de mascar e pastas de dentes.
“Vamos entrar em um negócio completamente diferente de celulose e papel. Esse é o segundo passo da companhia dentro da estratégia de diversificação”, disse ao Valor PRO, serviço de informação em tempo real do Valor, o vice-presidente executivo da divisão de Biomateriais da Stora Enso, Juan Carlos Bueno.
O primeiro passo foi a construção de uma biorrefinaria, na Finlândia, focada na produção de lignina, que pode substituir produtos a base de petróleo na obtenção de determinadas especialidades químicas. A refinaria entrará em operação no ano que vem.
Porém, já há algum tempo, um dos focos do comando da Stora Enso tem sido reduzir a exposição da companhia ao segmento de papel e celulose e desenvolver novas plataformas de negócios, atreladas a mercados em expansão.
A unidade de xilose, que poderá produzir 7 mil toneladas por ano, será erguida em Raceland, no Estado da Luisiana, e receberá bagaço de cana-de-açúcar da Raceland Raw Sugar Corporation.
O investimento se segue à aquisição da Virdia, empresa americana especializada no desenvolvimento de tecnologias de extração e conversão de biomassa, anunciada em 23 de junho, em um negócio que pode alcançar US$ 62 milhões – pagamento inicial de US$ 33 milhões e adicional de US$ 29 milhões condicionado ao cumprimento de metas tecnológicas e comerciais estabelecidas até 2017.
As tecnologias desenvolvidas pela Virdia permitem a separação da celulose, da lignina e da hemicelulose de diferentes tipos de biomassa. É justamente um desses processos, o que possibilita a extração da hemicelulose, que será usado na unidade demo nos Estados Unidos. Conforme Bueno, até o início de operação da fábrica, previsto para o começo de 2017, a companhia já terá definido se vai comercializar a própria xilose ou algum outro produto que leva o açúcar. “Essa [última] é a linha mais provável”, adiantou o executivo. “O objetivo é criar valor ao acionista e ao cliente.”
Para chegar ao produto final, a Stora já está pesquisando empresas que tenham desenvolvido tecnologia proprietária que complementem o processo produtivo. “Isso pode levar a uma parceria ou nova aquisição”, acrescentou.
Como a fábrica demonstração americana servirá, num primeiro momento, para validação da tecnologia desenvolvida pela Virdia, a Stora Enso poderá construir uma outra unidade, com escala industrial, a partir de 2017, uma vez que sua viabilidade seja comprovada.
Em nota, a papeleira europeia informou que o projeto “possivelmente” seria erguido junto a alguma fábrica de celulose da própria companhia, que forneceria a biomassa. Conforme Bueno, a bétula e o eucalipto, em menor grau, também podem ser fontes de xilose.
Hoje, para a produção de celulose, disse Bueno, pouco mais de metade da árvore é utilizada no processo e o restante é queimado, para aproveitamento como combustível. “Com essas novas tecnologias, encontramos alternativas para usar essa outra metade da madeira”, acrescentou.
(Fonte: Valor Econômico)