Mais da metade das usinas de açúcar e etanol que pediram recuperação judicial desde 2008, ano do início da crise internacional, está inativa.
Estudo da consultoria MBF Agribusiness, de Sertãozinho, aponta que a dívida das usinas chega a R$ 13 bilhões. Das 67 empresas do setor no país que entraram em recuperação nos últimos seis anos, 40 não produzem.
Muitas não conseguem se recuperar por causa da crise, a mais severa da história, que atinge as unidades que atuam na produção de etanol, açúcar e energia elétrica.
Só neste ano entraram em recuperação judicial sete usinas, de pequeno, médio e grande portes –duas do grupo Carolo, quatro da Aralco e uma da Andadre.
O diretor da MBF, Marcos Françóia, disse que a recuperação é uma alternativa para que as usinas mantenham a produção, o emprego dos trabalhadores e a capacidade de quitar dívidas com credores.
Segundo Françóia, a maioria não manteve as atividades porque não conseguiu honrar os pagamentos.
“Essas, que entraram em recuperação e fecharam, acabaram tendo sua produção inviável. Isso não quer dizer que esse processo [de recuperação judicial] seja um insucesso. Se o mercado tivesse reagido depois de 2008, a situação seria melhor”, disse.
O diretor-técnico da Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar), Antonio de Padua Rodrigues, afirmou que muitas vezes a recuperação é um “caminho sem volta”, mas que muitas usinas acabam se salvando porque os credores viram acionistas.
Marcos Fava Neves, docente da FEA-RP (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto), da USP, afirmou que a previsão é de que mais empresas entrem em recuperação neste e no próximo ano.
“Você tem cerca de 15% do setor em recuperação. Significa que alguma coisa está errada. Se não houver um reajuste no preço da gasolina, se o governo não olhar para esse setor, vai aumentar o número dos processos no ano que vem”, disse Neves.
Segundo ele, cerca de 50 unidades correm risco de pedir recuperação porque estão “doentes financeiramente”.
Para Neves, a situação é crítica não apenas para o setor, mas também para as cidades, que são sede dessas usinas. “Os fornecedores não recebem e as vagas de trabalho são fechadas. Também é ruim a previsão de queda de impostos para o município”.
De acordo com o levantamento da MBF Agribusiness, as usinas em recuperação planejam pagar suas dívidas em até 25 anos.
No início do ano, o estudo da MBF apontou que 58 usinas estavam em recuperação. A pesquisa atual contabilizou também unidades de pequeno porte, que não foram contempladas anteriormente.
Recuperação judicial tem impactos
A recuperação judicial de usinas não afeta preços do açúcar no mercado e do etanol nos postos, porque o valor não é regulado pela oferta e demanda. O impacto da desativação de usinas, porém, gera prejuízos aos municípios que as abrigam, com queda de postos de trabalho, de impostos e do dinheiro que circula.
Fonte: Folha de S. Paulo