No início de março, quando comprou da Copersucar os produtos da marca União, o empresário Roberto de Rezende Barbosa, de 54 anos, transformou o quase desconhecido grupo Nova América, com sede na pequena cidade de Tarumã, no interior de São Paulo, em líder do mercado brasileiro de açúcar.

Com a aquisição, a Nova América agora tem metade do mercado de açúcar refinado, ante os 11% obtidos pela sua marca Dolce. “Para os consumidores nada muda”, diz o economista Júlio Borges, consultor dos setores de açúcar e álcool. “Mas para o grupo será um salto estratégico”.

Na prática, é como se uma nova empresa surgisse da noite para o dia. O faturamento anual da Nova América quase dobra: de 800 milhões de reais para 1,4 bilhão de reais. Além de absorver sete novas marcas, o grupo incorpora a produção de duas novas unidades industriais. O número de clientes sai de 9.000 para quase 40.000. O volume de açúcar comercializado anualmente quase triplica, para 700.000 toneladas.

“Daqui a pouco vão começar a me chamar de rei do açúcar”, diz Barbosa. “Mas eu não gosto desse tipo de projeção”. Barbosa está concentrado em garantir que uma transição desse tamanho ocorra sem sobressaltos. Por isso, ele também comprou as áreas comercial, de marketing e de distribuição da União e manteve as mesmas equipes. Nos cinco primeiros anos, a Copersucar se comprometeu a garantir a matéria-prima necessária à repentina expansão.

O grupo Nova América é controlado por três irmãos. Renato Eugênio, o mais velho, fez economia, mas na prática é um boiadeiro que cuida dos outros negócios da família, como soja e gado. O caçula, José Eugênio, é agrônomo e responde pela área de suprimentos do grupo. Roberto, o presidente, não chegou a terminar a faculdade de administração no Mackenzie porque achava mais importante trabalhar.

Os três descendem de uma longa linhagem de fazendeiros. O bisavô, o avô e o pai plantaram café no interior de São Paulo. O negócio com açúcar só começou na década de 40 e cresceu pelas mãos de Roberto no final dos anos 80. Foi sob sua gestão que o grupo lançou sua própria marca no varejo e investiu na construção de um terminal portuário em Santos para exportação do açúcar produzido pela empresa e também por terceiros.

Hoje, cerca de 15% da produção da Nova América é exportada. O grupo tem ainda uma divisão de sucos com as marcas Fast Fruit e Frutteto, além de duas tradings.

“Crescer no mercado interno de açúcar é complicado”, diz o consultor Borges. Com as mudanças nos hábitos de alimentação, que cortam os doces e privilegiam os adoçantes, o consumo de açúcar praticamente estacionou nos últimos cinco anos. No ano passado foram vendidas quase 3 milhões de toneladas, movimentando cerca de 2,5 bilhões de reais. “Para ganhar escala e cortar custos, só com aquisições”, diz Borges. “Foi o que a Nova América fez”.

A oportunidade apareceu porque a Copersucar decidiu desfazer-se das operações no varejo e priorizar a venda de grandes volumes para as indústrias e para a exportação. “O cavalo passou encilhado na minha porta”, diz Barbosa. “Eu não podia deixar de montar”.