Mercado

Auxílio a agricultor melhora cenário de um ano muito ruim

Custos mais altos, dólar mais baixo, falta de chuvas. Apesar de tudo isso, 2005 poderá não ser tão ruim para o agricultor brasileiro.

Uma inesperada e aguda recuperação dos preços dos grãos nos últimos 30 dias está forçando analistas a refazer os cálculos para o setor.

No início do mês, o ministro da Agricultura Roberto Rodrigues anunciou um pacote de medidas de auxílio ao agricultor empresarial. O pacote, aprovado quarta-feira pelo Conselho Monetário Nacional, prevê a renegociação caso a caso das dívidas de linhas de investimento que venceriam em 2005.

Do dia 2, data do anúncio do pacote, até 16, quando foi ratificado, soja e milho

tiveram forte alta. O indicador da soja calculado pela Esalq acumulou alta de 15,77%, atingindo R$ 38,24 por saca no dia 16. O preço do milho, segundo a Fundação Getúlio Vargas, acumulou ganhos de 10,98%, sendo calculado em R$ 20,20 por saca.

Os preços da soja no Brasil subiram por causa da alta no mercado internacional. Na Bolsa de Chicago, por exemplo, os contratos para maio acumularam alta de 7,37% entre os dias 2 e 16 de março. A alta foi provocada pelos problemas climáticos na América do Sul e por um forte movimento de compra especulativa por fundos de investimentos. A alta do dólar também ajudou: no câmbio comercial, acumulou alta de 4,6% no mesmo período. Já os preços do milho sobem principalmente pelo clima no Brasil. Além de a seca ter quebrado a safra gaúcha, está afetando o plantio da segunda safra no Paraná.

Com o cenário mais favorável de preços, o presidente da Abag, Carlo Lovatelli, acredita que a ajuda do governo será canalizada para agricultores que perderam a safra de safra com a seca. Segundo ele, a renda parece recuperada, neste momento, nas áreas onde não houve perda climática. A ação do governo deverá ser regionalizada, em favor do Rio Grande do Sul especialmente, reconhece.

QUEBRA

De fato, a seca foi devastadora para o Sul do Brasil: em relatório divulgado semana passada, a Conab estima quebra de 20% para a produção de milho e de 24% para a soja, na comparação com a expectativa de produção em outubro do ano passado. A situação é verdadeiramente dramática para os gaúchos. A safra de milho do Rio Grande do Sul é estimada em 2,162 milhões de toneladas, e a de soja, em 5,562 milhões de toneladas – e a Conab calcula quebra de 54% para a safra de milho e de 40% para a soja.

Em valores monetários, a Consultoria Céleres estima as perdas da região Sul por causa da estiagem em US$ 1 bilhão. Por outro lado, algumas regiões que não sofreram com a seca são beneficiadas pelos preços. No Mato Grosso, a recuperação de preço deverá dar receita adicional de R$ 695 milhões, segundo os consultores. E no Nordeste, a renda extra será de R$ 300 milhões.

A alta de preços também faz as consultorias refazerem os cálculos para as exportações de soja. Amaryllis Romano, analista da consultoria Tendências, acredita que o complexo soja deverá render US$ 9,21 bilhões em divisas para o Brasil em 2005. Embora menos do que os US$ 10,05 bilhões de 2004, o número já é mais otimista do que os US$ 8,31 bilhões projetados anteriormente. Em relatório divulgado esta semana, a analista atribuiu a revisão das exportações aos preços mais elevados da soja no mercado internacional.

O preço melhora, mas o cenário para o agricultor continua complicado em 2005, avalia o analista Glauco Carvalho, da MB Associados. A consultoria estima que os preços da soja em grão deverão fechar o ano em média 19% menores do que em 2004. E os custos dos agricultores subiram de 17% a 20% no último plantio. Será um ano de margens mais estreitas e os agricultores do Sul que tiveram quebra vão enfrentar prejuízos. Os preços menores projetados para Chicago se explicam pela relação estoques/consumo em termos mundiais. Na safra 2003/04, a relação foi de 18%. Na safra atual, a MB Associados projeta 23%, já considerando que a safra brasileira vai ficar em apenas 54 milhões de toneladas.

E Carvalho considera que os preços mais firmes em Chicago este mês poderão convencer os americanos a plantar mais soja do que o inicialmente planejado. É preciso ver se a intenção de plantio nos EUA não irá crescer, porque isso pode afetar os preços.