O motorista de caminhão Dean Rogers fez o maior investimento de sua vida ano passado. Ele juntou US$ 25.000 para entrar de sócio numa usina que transforma milho em etanol, para ser usado como combustível.
“É uma baita mudança”, diz Rogers, de 61 anos, que passou um quarto de século dirigindo de fazenda em fazenda para fazer entregas de combustível e espera que o investimento garanta uma boa aposentadoria.
Rogers é um entre milhares de agricultores, professores, comerciantes, aposentados e outras pessoas que sacaram suas poupanças e tomaram dinheiro emprestado para entrar na maior onda de investimento da vida rural dos Estados Unidos em décadas.
O etanol destilado do milho é, do mesmo jeito que o álcool feito a partir da cana-de-açúcar, misturado com a gasolina para aumentar o rendimento do combustível.
Até agora, o negócio está em plena expansão. Com o preço da gasolina em alta, o do etanol também subiu, 40% em dois anos. A Bolsa de Chicago (CBOT) está para lançar um contrato futuro para o etanol. Usinas construídas por cooperativas rurais e empresas particulares, a um custo de US$ 50 milhões a US$ 125 milhões cada, estão agora devolvendo benefícios em cascata para os investidores do interior americano.
Em Oakley, cidade de Kansas com 2.173 habitantes, uma usina chamada Western Plains Energy criou 30 empregos.
Aberta há somente um ano, ela já pagou a seus investidores US$ 2 milhões em dividendos. O depósito de material de construção da cidade foi reaberto, um novo banco apareceu, a parada de caminhões está sendo refeita e as pessoas estão reformando suas casas.
Correndo para pegar a onda, outras cidadezinhas estão oferecendo incentivos fiscais, construindo estradas até os terrenos de usinas e emitindo títulos municipais para financiar a construção.
Os bancos estão oferecendo empréstimos para as pessoas comprarem ações, às vezes nem exigindo que os investidores coloquem algum dinheiro do próprio bolso. O resultado é que 25 novas usinas de etanol estão sendo construídas, e elas se somarão às atuais 83, um terço das quais tem menos de três anos de idade.
Em Minnesota, um só construtor tem 42 outras usinas na prancheta.
“Nunca vi as pessoas tão animadas”, diz LaVon Schiltz, diretor do conselho de desenvolvimento econômico da cidade de Nevada, no Estadod de Iowa. Jeff Broin, que constrói usinas de etanol, chama isso de “um pouco parecido com uma corrida ao ouro”.
Mas vai durar? O preço do etanol acompanha de perto o da gasolina, e por isso o preço do petróleo — atualmente em alta, mas volátil e difícil de prever. Usinas de etanol têm pouco poder de fixar preço caso sua matéria-prima, o milho, suba.
Um boom anterior do etanol, nos anos 80, evaporou quando o preço do petróleo caiu.
E além de tudo, o frenesi de construção de usinas pode superar a demanda.
Se mantido o atual ritmo de construção, no fim do ano os EUA terão capacidade para produzir 15 milhões de metros cúbicos de etanol por ano. Economistas do Departamento de Energia não vêem necessidade de tanto etanol assim nos próximos cinco anos. “A produção está crescendo mais rápido que a demanda”, diz Martin Andreas, um consultor sênior da Archer- Daniels-Midland Co. Claramente, a gigante de commodities, que é a maior produtora americana de etanol, não tem planos de aumentar sua capacidade.