Mercado

Nas exportações, outro ano bom

Os números são iniciais, mas são suficientes para definir tendência promissora, neste ano, para as exportações brasileiras. As primeiras projeções, elaboradas a partir dos dados já consolidados de janeiro e fevereiro, sinalizam saldo positivo em torno de US$ 30 bilhões para a balança comercial. Definidos os resultados da primeira semana de março, o superávit acumulado em 2005 está em US$ 5,58 bilhões, 41,05% superior ao obtido no mesmo período do ano passado.

As médias diárias de vendas externas, nos dois primeiros meses do ano, são equivalentes às obtidas nos meses de maior exportação do ano passado. Por exemplo, na terceira semana de fevereiro, a média diária de exportações chegou a US$ 442,4 milhões, menor apenas que a obtida na média de outubro de 2004, 3,9% maior que a das duas primeiras semanas do mês, 12,5% maior que a média diária de janeiro e, o mais importante, 38% superior à média de fevereiro do ano passado. Dessazonalizada, essa tendência das exportações fica mais clara: a média diária das exportações acumuladas até a terceira semana de fevereiro alcançou US$ 382 milhões, 29% maior que a média acumulada em doze meses, até a terceira semana de fevereiro de 2004.

A aposta em números melhores para a balança comercial deste ano também foi construída por desempenhos inesperados de alguns produtos da pauta. O reajuste dos preços das commodities não agrícolas, em especial minério de ferro, é o principal deles. Neste ano, as exportações de minério de ferro devem alcançar US$ 8 bilhões, 71% acima dos US$ 4,7 bilhões obtidos em 2004. Sem dúvida, o reajuste de 71,5% imposto pela Companhia Vale do Rio Doce, para os contratos de fornecimento de 2005, tem óbvia incidência nesse recorde.

Não é só a commodity que incentiva a exportação brasileira. Em 2004, os manufaturados corresponderam a 54,9% do total exportado. É preciso lembrar que exportamos três vezes mais veículos no ano passado do que café, US$ 5,5 bilhões contra US$ 1,7 bilhão. Em janeiro e fevereiro a indústria automobilística exportou como nunca. Dos 186 mil veículos fabricados em fevereiro, o melhor resultado do setor para o período, 58.983 foram para o exterior, 76,7% a mais que em fevereiro de 2004. Em janeiro a indústria exportou 30,8% a mais que no mesmo mês do ano passado.

Não é diferente a evolução nos demais itens do setor de transporte, do elétrico e até de produtos vinculados ao agronegócio com valor agregado, como açúcar refinado e suco de laranja.

Esse desempenho não inclui novos nichos de mercado já identificados. O governador Geraldo Alckmin lembrou, por exemplo, que a assinatura do Protocolo de Kyoto abre “grande oportunidade de exportação de etanol”. A Petrobras anunciou investimentos para dobrar o alcooduto ligando Paulínia ao porto de São Sebastião, com capacidade atual de 4 bilhões de litros. O incremento da demanda por etanol na Ásia, especialmente Japão, tem perspectiva de curto prazo, e não erra quem prevê contratos de exportação mais significativos já no segundo semestre. A manutenção da meta de auto-suficiência em petróleo da estatal, com a entrada em operação da plataforma P-48, acelera o calendário de investimento da companhia e reduz o peso das importações de gasolina, abrindo possibilidade de exportação de óleo bruto. Há outros novos nichos de exportação, fora da área petroquímica, com potencial igualmente promissor a curto prazo.

A cotação do dólar, muito baixa, impõe cota de sacrifício às exportações. Parte considerável do sucesso de nossas atuais exportações guarda correlação com a moeda americana menos depreciada. O mercado vem sinalizando, atento às medidas que o Banco Central vem adotando, que o patamar pretendido do dólar é de R$ 2,70, valor distante do necessário, mas mais compatível com o esforço exportador do País. E vários dos contratos de exportação que agora estão sendo realizados foram fechados nesse patamar.

O valor do câmbio é importante, porém o perfil dos investimentos também é, na identificação de tendências na exportação. O economista Antonio Barros de Castro, diretor de Planejamento do BNDES, mostrou que os investimentos em bens de capital sem rodas – não o caminhão ou o trator, mas a máquina que aumenta a capacidade de produzir da indústria -, cresceram 177% entre janeiro de 2004 e janeiro deste ano. Este investimento foi feito porque o empresário sentiu expectativa de demanda interna e externa para o produto brasileiro. Cassandras de plantão, portanto, devem procurar outros espaços para exercer o característico pessimismo demolidor. As tendências sugeridas pelos números das exportações nos dois primeiros meses do ano indicam, decididamente, que o ano promete.

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