Agricultura

Entrevista com Silvano Alves da SIlva, do comitê administrativo da Stab Leste

Entrevista com Silvano Alves da SIlva, do comitê administrativo da Stab Leste

Cinco perguntas para Silvano Alves da Silva, presidente do comitê administrativo da Stab Leste e gerente administrativo e suprimentos da Usina Sinimbu

Qual sua interpretação sobre o atual cenário sucroenergético nordestino? O clima tem atrapalhado?

Nossa região enfrenta problemas relacionados ao clima, a variável chuva sempre foi constante em na produção de cana do Nordeste. Porém este não é o problema preponderante, o maior entrave é a maneira como o governa trata o setor, principalmente na área de combustíveis. Também temos a questão mercadológica, a situação ficou mais difícil a partir de 2008, com uma crise generalizada. Há uma oscilação de preços ditados pelo mercado, que são difíceis de acompanhar, ainda mais com uma política que não facilita o crédito para o setor. Enfrentamos também uma geração mais nova que possui certo desapego às usinas, a chamada geração Y, e possui mais resistência para vestir a camisa da equipe, mas isto é um fenômeno que ocorre em todos o mundo e teremos que aprender a trabalhar tais comportamentos.

Em épocas de crise, para qualquer setor, há uma tendência de troca de cargos estratégicos. Isto já acontece na região?

Acho que esse movimento é necessário, pois se o gestor não possui a visão de que mudanças são necessárias, a empresa deve forçar a mesma. Isto realmente não ocorre somente para o mercado da cana, estou há mais de 30 anos no setor e nunca vi um ano igual ao outro. Precisamos estar antenados, é fundamental para o gestor não fique parado e que se atente a pontos fundamentais: redução de custos com sustentabilidade, adequação de novas tecnologias à empresa, e preocupação com a formação de sua equipe. Com o atual cenário, algumas usinas passaram apenas a administrar o fluxo de caixa, e isto não é saudável para qualquer empresa. Pois desvia atenção para o que realmente é importante, a gerência em um patamar que a torne competitiva tanto no país como para o comércio internacional. No Nordeste temos bons exemplos de usinas que administram pensando a longo prazo, porém vejo que mais de 50% do setor acaba preso à esta pratica e perde o controle sobre a vitalidade do negócio.

Há maneiras de investir em renovações com controle de custos?

É possível desde que haja planejamento antecipado. Nós, da área sucroenergética, temos sempre que estar atentos para estas oscilações do mercado, para isto, a base é ter uma equipe coesa. O empresário deve entender que as crises sempre aparecerão, e é preciso estar preparado. Se quisermos sobreviver, temos que atuar e pensar previamente. Historicamente, nos últimos trinta anos, tivemos a presença de crises, por esta razão os investimentos devem ser sustentáveis e paulatinos, com garantia de reservas técnicas. Não posso deixar de citar que as empresas mais antigas da área sucroenergética possuem uma carga de débito histórica, tornando as mais novas mais competitivas em termos de capital.

Em quais pontos os gestores devem se atentar para aumentar a lucratividade, mesmo com tantas variáveis externas?

Não podemos deixar de acompanhar nossos custos, principalmente os relativos à produção, já que o mercado é quem dita o valor final do produto.  O desapego também é importante, métodos e processos que antes davam certos, podem não ser efetivos atualmente, essa percepção do novo é fundamental.

Como podemos estimular os colaboradores mesmo em uma fase ruim da empresa. Como eles reagem neste momento?

A crise pode gerar uma certa instabilidade nas equipes de base das usinas. Como poucos possuem a informação exata da situação financeira da empresa, pode haver certas dúvidas. A falta de comunicação entre as diretorias e gerências e assim até os funcionários de base, cria um cenário de instabilidade que com certeza gera maior rotatividade, o turn over aumenta. Quando alguns percebem o clima de insegurança interno, optam por deixar este ambiente para procurar o incerto. Claro que colaboradores com mais anos de empresa, tendem a segurar um pouco mais. A equipe mais jovem, tende a deixar a empresa, mesmo desconhecendo o panorama externo, mas novamente, este é um movimento que ocorre em todo o mundo. O gestor de pessoas deve ter equilíbrio, enxergar o valor individual de sua equipe para evitar que talentos deixem a empresa