Sessenta e seis usinas sucroalcooleiras, de 2008 a 2014, suspenderam suas atividades ou fecharam definitivamente as portas na região Centro-Sul do Brasil, segundo informações do presidente do Fórum Nacional Sucroenergético, André Luiz Rocha. Ele foi eleito há um ano para comandar a entidade, que foi criada na mesma época em Brasília (DF) para representar 16 importantes entidades de 15 estados produtores de açúcar, etanol e bioenergia.
Ele destaca que, nos últimos seis anos, o segmento fechou mais de 80 mil postos de trabalho.
“Diante do cenário, já revimos nossa previsão da safra 2014/15 de cana-de-açúcar: antes era de 589 milhões de toneladas de cana e agora passamos para 560 milhões. O setor, em média, acumula R$ 60 bilhões em dívidas e está faturando somente R$ 65 bi. Se o Brasil não contar com políticas públicas e ações mais efetivas do governo junto ao setor sucroenergético, nós corremos o risco de sofrer com a falta de etanol no País”, alerta Rocha.
Na opinião do presidente do Fórum, o setor sucroalcooleiro enfrenta uma das piores crises de sua história.
“De 2005 a 2008, o País registrou um aumento de 25% no número de unidades sucroalcooleiras instaladas. De 2008 para 2014, 30% das quase 390 usinas existentes no Brasil mudaram de mãos, fecharam, suspenderam as atividades ou estão fazendo a moagem fora de seu município”, ilustra.
Para tentar amenizar a situação, Rocha acredita que o governo federal está aberto a conversações. No entanto, teme que o período eleitoral atrapalhe a continuidade das negociações com o setor sucroenergético ainda neste ano.
“Durante recente reunião do Fórum com o Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), o próprio governo propôs aumentar a mistura de etanol à gasolina de 25% para 27,5%, mas isto não aconteceu ainda. Queremos que o governo mude a banda da chamada `Lei da Mistura´ para um intervalo legal de 20% a 30%”, destaca.
Rocha critica o fato de o governo elevar e reduzir a mistura quando quer, para tentar conter a taxa inflacionária, monitorando o preço da gasolina. Para ele, enquanto esta prática persistir, o etanol continuará perdendo competitividade.
“Ao tentar segurar a inflação a todo custo, controlando o preço da gasolina, o governo está fazendo da própria gasolina a maior concorrente do etanol, até porque o governo concedeu um subsídio a ela, a exemplo da desoneração com o fim do Cide (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico). Essa situação, inclusive, resultou em perdas importantes na arrecadação dos municípios brasileiros. Além disso, o governo precisa majorar o combustível fóssil, incentivar a energia limpa como é feito em outros países, mas isto não é colocado em prática.”
Quanto aos custos da indústria, Rocha ressalta que a implantação do Estatuto do Motorista no ano passado onerou ainda mais os gastos para as indústrias. Depois disso, as empresas têm encontrado dificuldades de conseguir caminhões e motoristas para realizar os fretes.
“De 2013 para este ano, houve um aumento de quase 8,6% das despesas com o frete, que passaram de US$ 53,7 por tonelada para US$ 58,31.”
Para Rocha, outro problema nacional – além da falta de uma “Lei da Mistura” mais efetiva, do alto endividamento do setor sucroenergético e dos altos custos da produção na indústria – está ligado ao fato de o governo federal não elaborar políticas públicas de incentivo ao uso de energia renovável.
“No nosso setor, apenas 40% das indústrias estão exportando bioeletricidade e, mesmo assim, sem utilizar toda a sua potência porque precisariam trocar muitos equipamentos, e isto custa caro. Temos um potencial enorme, comparado a mais de duas usinas hidrelétricas Itaipus, mas não aproveitamos.”
Saiba mais
O Fórum Nacional Sucroenergético é uma entidade criada no dia 24 de julho de 2013, com sede em Brasília, que atua na defesa do setor no País. Ao todo, representantes de entidades de 15 Estados produtores de etanol, açúcar e bioeletricidade participam dele.
Integram o Fórum as Associações de Produtores de Bioenergia do Estado do Paraná (Alcopar) e de Bionergia de Mato Grosso do Sul (Biosul), os Sindicatos das Indústrias do Açúcar e do Álcool no Estado de Alagoas (Sindaçúcar/AL), das Sucroalcooleiras de Mato Grosso (Sindalcool), das Sucroenergéticas de Minas Gerais (Siamig) e de Fabricação de Etanol do Estado de Pernambuco (Sindaçúcar/PE), o Sindicato da Indústria de Fabricação de Etanol do Estado de Goiás (Sifaeg), as Uniões dos Produtores de Bioenergia (Udop) e da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica) e os sindicatos do Maranhão, Piauí, Rio Grande do Norte, Bahia e Paraíba.
Em março deste ano, durante uma reunião com o ministro do Mapa, Neri Geller, o Fórum pediu ao governo para que incentive a melhoria da eficiência energética dos motores flex e mantenha o Programa Pró-Renova com a equalização das taxas de 2013, para as empresas nacionais de capital estrangeiro. Ainda solicitou que mantenha a atual política da utilização do açúcar e adoçantes nos refrigerantes fabricados no País.
Fonte: Sociedade Nacional de Agricultura