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Real forte também penaliza RP e a região

O fortalecimento do real frente ao dólar traz problemas generalizados. Os exportadores são penalizados porque recebem menos do que contabilizavam quando a moeda americana valia mais. Ontem, ela novamente fechou na casa dos arredondados R$ 2,60 (ou seja: R$ 2,608, ante R$ 2,609 da véspera).

Para quem importa, a vantagem de comprar por menos desembolsos é aparente porque há o risco de afetar a indústria do Brasil. Basta lembrar o enxame de guarda-chuvas adquiridos da China, impulsionados pelo dólar desvalorizado na década de 90, que quase fecharam os fabricantes brasileiros.

O economista Edgard Monforte Merlo, do Departamento de Administração da FEARP (Faculdade de Economia e Administração da USP de RP) é categórico: solucionar a situação não é fácil, mas existem saídas. Uma delas é deixar de atrelar as exportações brasileiras pela moeda americana.

“Poderíamos empregar uma cesta de moedas, incluindo, por exemplo, o fortalecido euro”, diz. Outra alternativa, emenda, seria repetir a prática da China, que desvaloriza a moeda local na mesma proporção com que o dólar cai.

Desistência

Segundo Merlo, como ocorre hoje no Brasil, em que o modelo de taxação do câmbio é flutuante, o exportador é incentivado a desistir do mercado externo, enquanto para o comprador internacional a situação não é alterada, já que ele paga o mesmo dólar de antes nas aquisições.

O dólar, conforme o economista da USP, seguirá declinante porque os investidores estrangeiros sabem que os EUA têm problemas na balança de pagamentos, e que gastam mais do que arrecadam. “Por isso parte dos investidores migrou para um novo ‘porto seguro’ que é o euro”, diz.

Em sua opinião, o BC (Banco Central) não tem como controlar o valor do real frente ao dólar. “Não é uma crise localizada do Brasil, não é uma valorização do real. É uma perda de valor do dólar a nível global”.

A situação, finaliza, assusta neste começo de ano porque em 2004 os preços agrícolas foram bons, mas nesse ano não há garantia.

Agregar valor é uma saída para fabricantes de produtos médicos

A desbancada da moeda americana põe para baixo as perspectivas de vendas externas de itens com concorrentes em outros países, nos quais a cotação esbanja vigor.

O consórcio BHP (Brazilian Health Products), criado em 2002 em Ribeirão Preto com fabricantes de produtos para as áreas médica e dental, é vítima exemplar da situação. Entre as 15 empresas associadas, há quem fechou contratos de exportação em meados do ano passado, quando o dólar valia R$ 3,70 e, na hora de providenciar a entrega, a cotação despencou para valores abaixo de R$ 3,00.

“Não se pode prever valor do dólar, ele é flutuante, variável, e na hora de fechar o câmbio, no Banco do Brasil, manda a cotação do dia”, diz Maurício Penha, presidente do BHP.

Agregar

Penha ratifica o que já é regra comum: o ritmo de decadência da moeda americana está longe de terminar. Entre os motivos está o fortalecimento do euro. Segundo ele, a alternativa para os fabricantes ligados (e não) ao BHP é agregar mais valor para, uma vez diferenciado, o produto poder ser comercializado por preços mais altos.

Conforme ele, os US$ 5 milhões apurados de vendas externas em 2004 pelos consorciados resultam em parte da participação em feiras internacionais. Mas, em outra parte, refletem os investimentos já feitos em produtos e em profissionalização. “É preciso investir em inovação tecnológica para conseguir a diferenciação”, diz.

Penha, contudo, reconhece: faltam recursos financeiros para o fabricante empregar nessas inovações. “Se quiser, terá de tirar do bolso porque inexistem linhas de créditos disponíveis ou grandes doadores como Bill Gates, que de uma só vez despejou US$ 300 milhões em um centro de pesquisas dos EUA”, explica. Mesmo com as adversidades, o presidente do BHP aposta que o volume de exportações deste ano deverá superar em 15% os US$ 5 milhões apurados no ano passado.