Salto no mercado externo obrigará as usinas a produzirem 1,5 bilhão de litros a mais nesta safra. O Brasil exportou em 2004 quase três vezes mais álcool do que no ano anterior. Passou de 762,14 milhões de litros, em 2003, para 2,26 bilhões de litros no ano passado, segundo a União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (Unica). O salto no mercado externo e o crescimento do consumo doméstico de álcool hidratado deverá obrigar as usinas da região Centro-Sul a reforçarem neste ano a produção desse combustível. Terão de ampliar a oferta em pelo menos 1,5 bilhão de litros caso queiram atender ao mercado interno e, ao mesmo tempo, aos compromissos de fornecimento assumidos no exterior. Com isso, a produção de álcool na região poderá chegar a 15 bilhões de litros na safra 2005/06.
O bom desempenho das exportações deve-se a um conjunto de fatores favoráveis ao produto brasileiro, como a crise do petróleo que levou os Estados Unidos a reforçarem suas compras externas de álcool. Apesar de uma sobretaxa de US$ 0,54 por galão sobre as importações americanas, os produtores brasileiros conseguiram embarcar 592,7 milhões de litros no ano passado, dos quais, 406,3 milhões de litros como exportações diretas, ou seja, sujeitas à cobrança de tarifa. O restante foi enviado ao Caribe, onde o álcool hidratado foi reprocessado e transformado em álcool anidro e, com isso, isentado da tarifa de importação americana.Outros destinos do álcool brasileiro em 2004 foram a Índia (400,9 milhões de litros), que neste ano enfrentou uma das piores secas de sua história, cujos danos não deverão ser superados neste ano; o Porto de Rotterdam (207,15 milhões de litros), para atender ao mercado Suécia, país que dá prioridade às questões ambientais; e o Japão (148,9 milhões de litros) que compra álcool no Brasil para uso industrial. A Nigéria (126,3 milhões de litros) e a Coréia (112,3 milhões de litros) também participam do grupo dos principais compradores de álcool brasileiro.
Com o crescimento das vendas externas e do consumo interno, a oferta de álcool aproxima-se da demanda total do mercado. “A situação dos estoques, hoje, é bastante confortável”, afirma o presidente da Unica, Eduardo Pereira de Carvalho, sem revelar no entanto o total de álcool reservado pelas usinas para atender à demanda doméstica, mais os embarques ao exterior do produto.
A preocupação do executivo da Unica é não influenciar os preços do combustível no mercado e, ao mesmo tempo, preservar a imagem, já arranhada no passado, pela incapacidade de atender ao consumo. Apesar de a oferta estar aparentemente equilibrada à procura, os preços do combustível estão em queda desde dezembro. Isso ocorre depois de um período de forte alta do produto. Os preços do álcool anidro subiram 70,5% desde o início da última safra (abril). O álcool hidratado foi reajustado em 67,3% no período, segundo dados do Centro de Pesquisa Avançada em Economia Aplicada (Cepea). Se comparados ao ano anterior, no entanto, a alta não foi expressiva. Aumentaram 11,5% para o anidro e 12,3% para o álcool hidratado.
Carvalho diz que a manutenção dos preços em níveis mais elevados estimularia as usinas a anteciparem o início do corte da cana, garantindo uma boa oferta do produto ao longo do ano. Apesar dos bons resultados alcançados em 2004, os produtores de açúcar enfrentaram situação adversa. O clima atípico durante o ano passado levou as usinas a alongarem a safra em 24 dias, elevando os custos de produção. Algumas unidades sequer concluíram o corte da cana. Com isso, os dados consolidados divulgados ontem pela Unica deverão ainda sofrer correções, mas irrelevantes, segundo a Unica.
A oferta maior de álcool poderá ocorrer à custa da produção de açúcar, mas tudo dependerá do andamento das condições climáticas e das cotações internacionais. Em 2004, a produção de açúcar foi intensificada entre agosto e novembro, quando a concentração de sacarose da cana era maior. Neste ano, segundo Carvalho, a entidade não deverá interferir na produção de seus associados, como já ocorreu no passado. “A decisão sobre o início do corte da cana e do destino da produção será do associado, que deverá avaliar o mercado”.