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Companhia Albertina capta US$ 10 mi e prevê retomada

A Companhia Albertina, que produz açúcar e álcool e tem sede em Sertãozinho (SP), concluiu captação externa de US$ 10 milhões, em uma operação financeira considerada inédita pelo mercado. A empresa deu como garantia parte de sua lavoura de cana, o equivalente a 80 mil toneladas de açúcar.

A negociação prevê pagamento parcelado em três anos, com “seguro performance” garantido pela seguradora australiana QBE. O agente financiador desses recursos é o também australiano Macquarie, maior banco de investimentos daquele país.

Conforme José Petros Papathanasiadis, diretor financeiro da Companhia Albertina, os recursos serão usados para dar continuidade à reestruturação da empresa, que desde o ano passado atravessa um processo de profissionalização. Petros afirmou ao Valor que o grupo está em fase de saneamento financeiro e busca consolidar uma posição mais sólida para ampliar sua segunda unidade produtora, instalada em Narandiba, na região de Presidente Prudente (SP).

Os executivos da Albertina tiveram que dar como garantia uma área de cana, com três anos consecutivos de cortes. Tradicionalmente, o ciclo de corte é de seis anos. O canavial será monitorado por satélites. “O ineditismo da captação está no fato de que esta apólice garante que a operação seja estruturada em três anos, quando geralmente o prazo é de um ano”, disse Papathanasiadis. Ele lembrou, também, que tradings foram por muito tempo financiadores do agronegócio, o que “ajudou a inflar os custos da operação”.

Fundada em 1922, a Companhia Albertina é controlada atualmente pela empresária Viviane Bonini Carolo. Com gestão familiar há até pouco tempo, a empresa começou a ensaiar uma guinada no início do ano passado, com a contratação de executivos do mercado financeiro. Petros foi um deles. Há sete meses na usina, o executivo passou pelo Unibanco, HSBC e Coimex. Um dos seus principais desafios será viabilizar linhas de créditos de longo prazo para dar continuidade ao processo de expansão.

Assim como a maioria das usinas do país, a Albertina foi golpeada pela forte crise do fim da década de 90, provocada pelo excesso de açúcar no mercado internacional. A empresa, agora, quer aproveitar o bom momento do setor – que atiçou o interesse dos australianos na operação de financiamento – e expandir seus negócios, mantendo o foco na exportação, sobretudo de açúcar. Na unidade de Sertãozinho (SP), a usina moeu 1,4 milhão de toneladas na safra 2004/05. Em Narandiba, foram processadas 110 mil toneladas de cana. “Pretendemos atingir 1 milhão de toneladas até 2010.”

O bom desempenho do setor sucroalcooleiro, com as perspectivas positivas de rentabilidade e de expansão dos negócios no exterior, sobretudo para o álcool, foi um dos fatores que deram credibilidade à operação, segundo Arnaldo Corrêa, presidente da Archer Consulting. “Essa negociação abre um precedente para outras usinas e poderá ser usado por outras agroindústrias”, disse.

Para Carlos Cezareto, vice-presidente de commodities do Macquarie, o cenário positivo dos agronegócios e o menor risco Brasil contribuem para reduzir os riscos deste tipo de operação. No Brasil desde 1998, o Macquarie tem sua atuação com foco nas chamadas commodities “fora do balcão”. “Os agronegócios estão ganhando importância no exterior”.