Apesar da ciência tentar reinventar a cana em busca de mais etanol, os desafios provam que a tarefa não é fácil. Tanto é que há 14 anos, a bióloga e doutora em bioquímica, Gláucia Mendes de Souza, coordena várias iniciativas em genômica de cana-de-açúcar e tenta superar os desafios da biotecnologia dessa cultura no país. Atualmente coordena uma rede de pesquisa em biomassa interessada em estudar os aspectos básicos da biologia da cana, gerar plantas transgênicas e ferramentas biotecnológicas. Ao presidir o BIOEN – Programa Fapesp de Pesquisa em Bioenergia, Glaucia trabalha em duas importantes linhas de pesquisas: Avaliação global da sustentabilidade da expansão de bioenergia e nos estudos da biomassa da cana para desenvolvimento da cana-energia, que conta com a participação da empresa Microsoft.
“Durante nossas análises identificamos genes que poderiam participar da chamada partição de carbono, pois 1/3 do carbono da cana está na forma de açúcar. Buscávamos genes que poderiam aumentar a produtividade da cultura e identificamos pontos que poderiam ser utilizados no melhoramento para a cana-energia. Agora os pesquisadores se focam na identificação de genes para melhorar o teor de fibra, alterar a partição de carbono, e criar uma cana mais tolerante a seca, a chamada cana-energia”, diz.
Segundo ela, a equipe está finalizando o sequenciamento do genoma referencial da cana. “Esse trabalho conta com a participação da Microsoft, pois esse genoma é tão gigante e complexo que a empresa topou o desafio de desenvolver um algoritmo que separa os mais de 100 cromossomos da cana. Em seguida vamos publicar um primeiro conjunto de dados de cromossomos, artigo muito importante para o melhoramento e biotecnologia da planta”, revela.
Gláudia diz que através do sequenciamento espontâneo a equipe descobriu muitos genes que trabalham na montagem da parede celular da cana (fibra). “Já temos esse conjunto de genes do ancestral que é mais tolerante a seca e resistente à doença. Então teremos que desenvolver transgênicos, testá-los e aplicá-los. Por enquanto estamos na etapa de prospecção, em busca de informações e agora teremos que aplicá-las. O estudo da Fapesp possui o escopo mais abrangente e ataca a maioria dos aspectos necessários para desenvolver conhecimento fundamental para melhorar a produção de energia de forma sustentável”, lembra.