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Brasil deve apelar de pontos do relatório da OMC sobre açúcar

Mesmo considerando-se vitorioso no painel da Organização Mundial do Comércio (OMC) contra o regime açucareiro da União Européia, o Brasil deve apelar de alguns pontos do relatório do órgão.

“Faremos também nossa apelação de pontos em que o painel não foi longe o suficiente”, afirmou na quinta-feira o chefe da área de Contenciosos do Ministério das Relações Exteriores, Roberto Carvalho de Azevedo, sem dar mais detalhes.

Azevedo apontou apenas que o país vai reivindicar “aspectos de economia judicial” inerentes ao processo. Segundo ele, estes “aspectos” poderiam atrapalhar a implementação do que foi determinado pelos juízes do painel.

A UE anunciou em outubro que recorreria da decisão da OMC, confirmada em setembro, que considerou ilegal boa parte das exportações de açúcar do bloco.

No relatório da OMC, o bloco é acusado, entre outras coisas, de ter ultrapassado os limites de exportação de açúcar subsidiado. No ano comercial 2000/01, segundo o documento, a UE exportou 4,1 milhões de toneladas de açúcar subsidiado, 2,8 milhões a mais que o permitido pelas regras internacionais.

A UE teria até 14 de dezembro para apresentar sua apelação à decisão. Mas no dia 13 de dezembro, os países envolvidos no processo –Brasil, Austrália, Tailândia e os da União Européia– se reúnem para tentar acordar uma extensão deste prazo para janeiro.

Esse prolongamento aparentemente tem consenso entre todas as partes, mas pode não ocorrer caso algum país não aceite a mudança. Se isso ocorrer, a data-limite para a UE apelar continua no dia 14. O Brasil apresentaria sua contra-apelação depois disso.

Para o Brasil, o adiamento não é ruim porque os técnicos brasileiros já estarão envolvidos no processo do algodão contra os Estados Unidos neste período.

Após a manifestação da UE, o órgão de apelação da OMC tem de 90 a 120 dias para emitir a decisão final.

Ao participar de um seminário sobre energia, Azevedo afirmou acreditar que são grandes as chances de o Brasil exigir o direito de retaliar a UE caso o bloco não cumpra o que for determinado pela OMC.

“Se a UE não implementar ou implementar parcialmente (as determinações da OMC), o Brasil pode pedir compensações como maior acesso ao mercado comunitário e abertura de mercado para o etanol, ou mesmo impor tarifas à importação de produtos europeus”, disse.

Azevedo afirmou, no entanto, que há movimentação no sentido de reformar o regime de açúcar da UE, o que, a princípio, evitaria a necessidade de retaliações.