Estamos vivendo intensamente a Copa do Mundo de Futebol no Brasil. O mundo está assistindo um dos maiores espetáculos do esporte, viabilizado pela dedicação ímpar de brasileiros e de todos aqueles envolvidos neste grande torneio. Dentro de campo, vemos o protagonismo das seleções em ótimas partidas do popular esporte bretão. Nesse quesito, não podemos deixar de dar destaque à excelência da seleção brasileira, liderada pelo experiente técnico Luiz Felipe Scolari e seus craques, Neymar Júnior, Oscar, Fred, Daniel Alves e companhia.
Com todas as portas e janelas abertas ao mundo, este é o momento propício para refletirmos sobre os nossos diferenciais competitivos e especialidades diante do mercado global. Certamente, um desses diferenciais de destaque dos brasileiros é dispor de um bem-sucedido programa de produção de um combustível 100% renovável: o etanol.
Muito tem se falado sobre o novo patamar alcançado pelo Brasil no cenário energético mundial, principalmente diante das vastas reservas de petróleo descobertas há alguns anos na província do pré-sal. Mas o que não podemos deixar de valorizar é a nossa capacidade de dispor de uma alternativa energética segura e eficiente representada pelo etanol, tendo em vista principalmente todos os benefícios que essa fonte oferece em termos ambientais, na geração de empregos e riqueza e em relação ao fortalecimento do domínio de tecnologias genuinamente nacionais.
Infelizmente, vivemos um momento de grave e lamentável desatenção em relação à indústria sucroenergética. Como temos debatido ao longo dos últimos anos, o enfraquecimento do setor alcooleiro tem sido provocado por fatores como a política de contenção de preços da gasolina – adotada pelo governo para segurar artificialmente a inflação por intermédio do controle exercido pela Petrobras –, a significativa escassez de financiamento dedicado ao setor e, portanto, a grave situação financeira imposta aos players da indústria sucroalcooleira.
A impressão que fica é a de que corremos o risco de perder, de uma hora para outra, todo um diferencial conquistado ao longo de décadas, e ao custo de muito trabalho e de vultosos investimentos financeiros, em razão do que parece ser uma falta de atenção e de cuidado mais dedicados das autoridades de nosso País em relação a este grande patrimônio, que é o bem-sucedido programa do etanol brasileiro.
Já está mais do que na hora de a indústria sucroenergética poder ter a capacidade de dar novos passos na direção de seu pleno desenvolvimento, especialmente a partir da otimização produtiva. Neste capítulo, devemos dar especial atenção à valorização de novas tecnologias, como a produção de etanol extraído da celulose, que é um dos subprodutos da cana-de-açúcar ainda hoje desprezados, mas que poderá ampliar consideravelmente a produtividade do setor. Também é essencial dar prosseguimento à mecanização da colheita da cana-de-açúcar, hoje bastante presente em grandes polos produtivos, mas ainda escassa em consideráveis porções produtoras de nosso território nacional. As usinas precisam também ter capacidade de atualizar e dar manutenção adequada a seus equipamentos, algo que, após alguns momentos de significativa evolução anos atrás, tem se tornado praticamente impossível há algum tempo, devido à falta de financiamento, ou ao alto custo do capital. O problema é perceber que, diante da atual situação do segmento, estes avanços têm sido impraticáveis.
Sem que sejam dirimidos os desequilíbrios provocados pela manutenção do preço da gasolina em patamares artificialmente baixos, sem que seja revertida a falta de estímulos concedidos ao setor e sem que os custos do dinheiro concedido ao setor sejam reduzidos, o segmento sucroenergético seguirá caminhando por uma zona cinzenta, que, ao fim e ao cabo, pode ser o prenúncio de sua derradeira e indesejada inviabilização.
Esperanças existem, já que temos, por exemplo, a expectativa de que os preços da gasolina sejam corrigidos, mesmo que parcialmente, já a partir deste ano, logo após as eleições. É necessário, portanto, que o Brasil aproveite esse momento de exposição, representado pela bela Copa do Mundo que vem sendo realizada em nossas modernas arenas, e mostrar, não só internacionalmente, mas, especialmente, aqui mesmo, em seu próprio território, que toda a excelência e diferenciais conquistados ao longo de quase quarenta anos de desenvolvimento de sua exclusiva e tão bem-sucedida experiência na área do etanol não serão abandonados ao relento.