Vamos contar uma estória que começa como todas as outras.
Era uma vez….Muito tempo atrás, um rapaz passeava, cavalgando em seu belo cavalo, quando uma cobra cruzou seu caminho, o cavalo se assustou, levantou as patas da frente, e o rapaz desequilibrou-se e caiu, batendo com a cabeça em uma pedra, e lá ficou por algum tempo, até que um bondoso casal o socorreu. Quando o rapaz acordou, estava totalmente desmemoriado, não sabia quem era, e como não portava documentos, ninguém soube identificá-lo e tão pouco souberam onde residia.
O casal, que era muito pobre, o acolheu e apesar de seus poucos recursos, a partir daquele momento, passou a tratar o jovem como se fosse um filho. A pobreza era tanta, que moravam em uma pequena casinha de pau a pique no alto de um penhasco, e tinham somente para sobreviver, uma hortinha, um pequeno pomar e uma vaquinha que lhes fornecia leite.
O tempo passou, e apesar das dificuldades o rapaz sobreviveu. Em um dado momento começou gradativamente a recuperar a memória, e naturalmente quis retornar para sua casa e rever seus familiares. Antes de partir quis ser grato ao casal que o acolheu, e para tanto, um dia antes da partida, foi se aconselhar com um velhinho que era tido como um sábio e mentor das pessoas que viviam naquela comunidade.
Falou ao velhinho sobre sua gratidão e que desejava em troca do bem recebido, fazer algo de bom ao casal. O velhinho não titubeou e prontamente aconselhou: – Sabe aquela vaquinha que eles possuem? Logo cedo antes de partir, lance-a pelo penhasco abaixo e parta sem se despedir.
O rapaz ficou atônito e contestou veementemente. Mas afinal, como o velhinho era sábio, obedeceu, e fez conforme foi orientado (instituindo dessa maneira uma crise na vida do casal).
Passaram-se anos, o rapaz agora mais maduro e bem sucedido, teve a vontade de voltar e rever o casal que o acolheu, a fim de lhes presentear, provendo-os de condições para lhes propiciar melhor conforto.
Quando lá chegou, qual a surpresa, o local tinha se tornado uma propriedade próspera, com uma enorme área plantada. Havia granjas de suínos e galinhas poedeiras, muito gado, tratores, muitos empregados, enfim, muita riqueza. Novamente ficou atônito, nesse momento o casal vendo-o, aproximou-se e os três se abraçaram muito comovidos e felizes. Ele então lhes perguntou, como eles conseguiram tanta prosperidade, e o senhor lhe explicou. – Quando você partiu, aconteceu uma tremenda desgraça, a nossa vaquinha que nos dava leite, caiu no despenhadeiro, e como não tínhamos mais de onde tirar alimentação, tivemos que nos virar. Conseguimos a doação de algumas galinhas que nos proviam de ovos, plantamos mais verduras e legumes, com o que sobrava do plantio e dos ovos, passamos a vender aos vizinhos, e gradativamente, compramos algumas vaquinhas. Foi dessa maneira que conseguimos chegar onde estamos agora.
ESTA ESTÓRIA TERMINA AQUÍ. E COMO TODO FIM DE ESTÓRIA, TODOS FORAM FELIZES PARA SEMPRE.
Agora com certeza você deve estar perguntando: – O que tem a ver essa estória com o segmento sucroenergético? Vou lhe dizer que tem tudo a ver!
Recordo-me que nos anos 70, quando eu ainda trabalhava no CTC (Centro de Tecnologia Copersucar), houve uma lei que proibia as usinas de descartar a vinhaça nos rios, pois estava poluindo e matando os peixes. Nessa ocasião, as usinas ficaram em polvorosa e questionando-se. – E agora, o que fazer? (É interessante observar que nesse momento provocou-se uma crise, uma das muitas responsáveis pela evolução do setor). Essa dúvida durou até que uma luz brilhou na mente de algum iluminado, e descobriu-se que aquele “enorme problema” se tornaria uma grande solução, pois a vinhaça transformou-se em um maravilhoso adubo, que trouxe muita economia para os cofres das usinas.
Mais adiante, a crise mundial do petróleo viabilizou e alavancou o álcool como combustível, e praticamente todos os veículos produzidos no país eram movidos a álcool. Posteriormente, o álcool, que tinha conseguido ser o principal combustível do país, infelizmente por inabilidade e amadorismo geral (governo e empresários, que adotaram posturas equivocadas), tornou o álcool desacreditado no mercado, novamente o setor entrou em crise, e o álcool cedeu para a gasolina, o espaço que tinha conquistado. Porém quando tudo parecia perdido, eis que surge o motor flex, que mais uma vez, ressuscita e torna viável o álcool combustível.
Mais recentemente, a proibição da queima e do corte manual, e a consequente expansão do corte mecanizado, fez com que sobrasse palha no campo, e novamente obtém-se outra grande solução, pois a palha e o excedente do bagaço são transformados em energia, a qual, juntamente com o açúcar e o álcool, torna-se mais um forte produto de comercialização para as usinas.
E não pára por aí, como “a necessidade é a mãe da criatividade”, eis que surgem, outros Biocombustíveis, (além do etanol) o Biodiesel que já é uma realidade, e o promissor Etanol de 2ª Geração “E2G”, que reaproveitando a mesma matéria prima utilizada para a produção do álcool e o açúcar, promete aumentar em até 40% a produção do etanol. Ressalvamos que ainda outros subprodutos continuam surgindo.
As crises passaram a ter uma função fundamental de estímulo para alavancar o setor, pois crise após crise, o setor sempre as superou e cresceu, de maneira que hoje é um dos mais importantes segmentos econômicos do país, um dos que mais emprega, desenvolve profissionais e paga os melhores salários do mercado.
Se não fossem as crises as usinas ainda hoje estariam produzindo apenas cachaça e rapadura. Por isso, sempre que surgir uma crise, esteja certo de que é o mecanismo que a vida se utiliza para impulsionar o setor a seguir seu destino, que inevitavelmente ruma ao progresso e à prosperidade.