O governo decidiu avançar nas discussões com o segmento sucroalcooleiro e prepara um plano de trabalho, que será executado a partir da próxima semana, para realizar estudos técnicos sobre o desempenho de motores automotivos e verificar a elevação do percentual de etanol anidro na mistura da gasolina que pode ser feita no curto prazo.
Atualmente em 25%, o percentual poderia chegar a 27,5%, mas a indústria automobilística resiste a um eventual aumento do limite da mistura obrigatória em função do impacto sobre os carros à gasolina.
Em até dez semanas, o governo espera definir um percentual de consenso para a mistura do etanol na gasolina, a partir de estudos técnicos coordenados pela Petrobras. O governo federal também quer incentivar, no âmbito do Inovar-Auto, linhas de pesquisa para melhorar a eficiência do desempenho do etanol com a finalidade de aumentar a competitividade e incentivar o desenvolvimento de motores a álcool, e não apenas adaptados para esse tipo de combustível.
Segundo apurou o Valor, a elaboração do plano de trabalho foi acordada em reunião coordenada pelo ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, na tarde de quarta-feira no Palácio do Planalto, com diferentes representantes do governo e do setor envolvidos na discussão.
Participaram do encontro o Fórum Nacional Sucroenergético, a União da Indústria de Cana de Açúcar (ÚUnica), a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), os ministérios do Desenvolvimento e de Minas e Energia e o Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro). Segundo fontes, o Inmetro tem um estudo rebatendo a posição da Anfavea de que o aumento da mistura prejudicaria o desempenho dos veículos movidos só à gasolina.
A reunião de quarta-feira foi um desdobramento de uma primeira reunião na última semana também na Casa Civil, por determinação da presidente Dilma Rousseff, definida como “emblemática” por um dos participantes da discussão.
“Ficou muito claro que o governo tem interesse, finalmente, em destravar o etanol e olhar para isso com seriedade. Todo mundo que está nessa discussão há muito tempo ficou perplexo com a mudança de comportamento do governo”, disse ao Valor esse participante das reuniões com o governo.
A disposição do governo federal em buscar uma aproximação, estreitando o diálogo com os produtores, tem animado o setor, ainda que haja um interesse eleitoral explícito, segundo avaliou a fonte. Os produtores também esperam que o governo, apesar do temor de impactos inflacionários, debata outras demandas do segmento sucroalcooleiro, como uma tributação diferenciada entre gasolina e etanol e incentivos para armazenagem de açúcar.
Estima-se no mercado que um percentual de mistura de 27,5% de anidro na gasolina significaria uma demanda adicional de 1,2 bilhão de litros do biocombustível neste ciclo 2014/15. A medida poderia trazer valorização às cotações do açúcar, na medida em que mais cana seria direcionada à fabricação de etanol. Em tese, o aumento da mistura significaria o “enxugamento” de 1,7 milhão de toneladas de açúcar do mercado do Centro-Sul, mas, na prática, metade desse volume realmente deixaria de ser produzido caso a mistura aumentasse, devido a limitações industriais das usinas.
(Fonte: Bruno Peres e Fabiana Batista – Valor Econômico)