Quatro anos depois de anunciar e realizar investimentos bilionários, a empresa sucroalcooleira da Organizações Odebrecht, a Odebrecht Agroindustrial, vai desacelerar sua expansão. A empresa, que teve em 2012/13 um prejuízo líquido de R$ 1,2 bilhão e uma dívida bancária superior a R$ 10,5 bilhões, vinha de um plantio anual de 100 mil hectares de cana-de-açúcar, ritmo que lhe demandava investimentos entre R$ 1,2 bilhão e R$ 1,3 bilhão por ano. Mas em 2014, a empresa começa a tirar o pé do acelerador, garante o presidente da companhia, Luiz de Mendonça.
O plantio anual de cana vai ser reduzido para níveis entre 60 mil e 70 mil hectares e também contemplará renovação – e não exclusivamente expansão como vinha sendo feito até agora. “Vamos crescer de maneira mais seletiva”, explica o executivo.
Da mesma forma, o orçamento destinado a investimentos encolherá para R$ 900 milhões já nesta safra 2014/15, afirma. “O montante pode recuar ainda mais nas próximas temporadas se o cenário para o etanol não mudar”, admite. Dentro do cenário atual, acrescenta ele, estão projetados para 2015/16 o investimento de R$ 600 milhões a R$ 700 milhões.
A razão para a revisão da estratégia é a intervenção estatal nesse mercado, diz o executivo. Ele cita a retirada da incidência da Cide na gasolina e o controle de preços do combustível fóssil, cuja defasagem em relação às cotações internacionais está em cerca de 20%. A gasolina é o principal concorrente do etanol hidratado nos postos de combustíveis do país e seu preço é um teto para os preços do biocombustível.
A Odebrecht Agroindustrial administra atualmente uma área de 400 mil hectares de cana-de-açúcar. “É praticamente uma Grande São Paulo de cana”, compara Mendonça. Nas nove usinas que detém, a empresa deve processar nesta temporada 2014/15 em torno de 27 milhões de toneladas, 20% acima das 22,5 milhões de toneladas de 2013/14.
No entanto, o volume de matéria-prima está muito distante das 40 milhões de toneladas que a empresa imaginava estar pronta para moer em 2016/17. “Com o novo planejamento, daqui duas safras devemos chegar a 32 milhões de toneladas”, prevê.
A postergação da meta não impediu que os gastos ficassem acima do orçamento inicial. Ao fim de 2010, a empresa estimava aportar mais R$ 3,5 bilhões para atingir a moagem de 40 milhões de toneladas na safra 2010/11. Mas o endividamento com empréstimos e financiamentos da companhia dobrou de R$ 5,250 bilhões em 31 de março de 2011, no fim daquele ciclo, para R$ 10,5 bilhões ao fim do mesmo mês de 2013. “Houve uma alta dos custos agrícolas no período. Estou falando de aumento do preço de arrendamento, de custo com mão de obra, além de insumos, como fertilizantes”.
No exercício encerrado em março de 2013, as despesas financeiras da Odebrecht Agroindustrial chegaram a quase R$ 1,1 bilhão, mais da metade da receita líquida de R$ 2,005 bilhões obtida no mesmo ano.
O executivo reconhece que houve uma expectativa, demasiadamente otimista, de que haveria, no curto prazo, uma correção do cenário de intervenção no mercado de etanol. “Nossa visão era de que precisávamos estar preparados para essa virada”, afirma. Essa expectativa, diz ele, foi sendo alimentada por declarações que não se concretizaram efetivamente em medidas.
“Ouvíamos a Graça Foster constatar publicamente a defasagem do preço da gasolina no mercado interno, aumentando a expectativa quanto a uma correção. Essa atmosfera nos manteve em velocidade máxima de expansão nos últimos três anos”, diz Mendonça.
O executivo afirma que a companhia, que já é a segunda maior de etanol do Brasil com produção de 1,5 bilhão de litros em 2013/14, não aposta mais nisso. Nas palavras de Mendonça, a empresa virou uma “cenarista”. “Traçamos vários cenários para o etanol, e nos posicionamos em cada um deles. Neste momento, trabalhamos com uma fotografia mais conservadora, de esperar uma recuperação mais lenta para esse mercado”, observa.
Ele afirma que a estratégia da empresa – que vinha priorizando cumprir seu plano de crescimento – é agora crescer de forma seletiva. “Avançar no ritmo que vínhamos fazendo, contribuiu para que deixássemos passar algumas oportunidades de ganho com redução de custo. Agora, nosso foco será acelerar ganhos de produtividade agrícola”.
Na área industrial, destaca Mendonça, a empresa é referência no setor sucroalcooleiro, graças ao conhecimento que o grupo detém com a operação da maior petroquímica do país, a Braskem, controlada pelo grupo Odebrecht e da qual Mendonça foi presidente na América Latina.
O executivo não revela em quais das nove usinas deixará de crescer. Mas garante que vai manter os investimentos em Mato Grosso do Sul. Para a unidade Eldorado, localizada no município sul-mato-grossense de Rio Brilhante, a Odebrecht prevê continuar o plano de expansão, para sair da moagem de 2 milhões de toneladas para 6 milhões em três anos. O aumento da capacidade dessa unidade – industrial e agrícola – vai demandar ao todo R$ 1 bilhão.
“Essa região, que tem um bom regime de chuvas, traz oportunidades para arrendar áreas que eram de pastagens degradadas para plantio de cana”, justifica.
No ciclo passado, o 2013/14, as usinas de Mato Grosso do Sul perderam produtividade após serem afetadas por geadas. “Deixamos de moer 1,5 milhão de toneladas de cana – 1 milhão de cana própria e 500 mil toneladas de terceiros – por causa dessa intempérie. Mas foi um ponto fora da curva”, afirma. Das três usinas de cana localizadas em Goiás, duas vão manter o ritmo de expansão, segundo Mendonça. “Vemos espaço para reduzir custo agrícola em 20%”.
Questionado sobre qual retorno os acionistas da Odebrecht Agroindustrial esperam do negócio, Mendonça responde que um percentual adequado seria de 15%, se o setor tivesse regras estáveis, o que não é o caso. O grupo controlador não divulga o retorno de suas operações, afirma o executivo, portanto, ele não revela qual é a taxa de retorno do negócio sucroalcooleiro. No entanto, Mendonça admite que o retorno é negativo atualmente.
“O que foi investido, já foi. Não vamos mudar o passado. A que preço o etanol tem que ir para pagar a dívida e nos dar retorno? Não tenho essa resposta”, reconhece.
(Fonte: Fabiana Batista – Valor Econômico)