São Paulo, Pela primeira vez na história, o álcool hidratado venceu a quebra de braço com o açúcar e assumiu o posto de produto mais rentável da cadeia. O álcool hidratado está com uma remuneração 3% superior à do açúcar no mercado de São Paulo, de acordo com dados do Indicador Cepea/Esalq.
Essa é a primeira vez, desde que o indicador de preços foi criado em 2001, que os preços equivalentes do álcool hidratado superaram os valores pagos pelo açúcar no mercado. “O indicador existe desde 2001, mas posso afirmar que essa é a primeira vez que a remuneração do álcool hidratado superou a do açúcar em São Paulo”, diz Mirian Bacchi, pesquisadora do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea). “Em algumas ocasiões, o álcool anidro chegou a ser mais vanta-joso do que os preços do açúcar, mas, historicamente, o açúcar sempre foi mais remunerador do que o preço do hidratado”, diz.
Ontem, o indicador de preços do açúcar, medido pelo Cepea, fechou negociado a R$ 27,99 por saca de 50 quilos. Já o preço equivalente do álcool hidratado – transformado de m³ para quilos – foi de R$ 28,95 por saca.
Os recentes recordes de valorização dos preços do petróleo no mercado internacional e o aumento da demanda por álcool combustível foram os principais responsáveis pela mudança de cenário. “A gasolina subiu muito, o que abre espaço para uma subida nos preços do álcool”, afirma Mirian.
Para Júlio Maria Borges, analista da Job Consultoria, o prêmio pago pelo álcool em toda região Centro-Sul do País é 15% favorável ao álcool, em comparação ao açúcar. “Na região, o preço da saca é de R$ 28,10, enquanto a equivalência com o álcool hidratado é de R$ 32,30”.
O analista lembra que, na medida em que os preços da gasolina aumentam para o consumidor, a demanda por álcool cresce internamente, interferindo na oferta do combustível. “A oferta e demanda de álcool estão muito equilibrados, o que tem gerado uma expectativa de entressafra apertada”.
Produção limitada
Apesar da vantagem do álcool em relação à gasolina, as usinas não devem aumentar a produção do combustível neste ano. “Não há mais tempo para aumentar a produção. Faltam apenas dois meses para o término do ano e não é possível fazer uma reversão tão rápida assim”, diz Fernando Ribeiro, secretário-geral da União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (Unica).
Na opinião de José Vicente Ferraz, diretor da FNP Consultoria, tudo indica que as usinas irão redirecionar a produção para o álcool, dada a valorização do combustível. “Isso, no entanto, terá um limite, uma vez que as indústrias também precisam atender os compromissos, principalmente de exportação, firmados anteriormente”.
Mesmo com o aumento da demanda para o mercado interno e a incapacidade de se ampliar a produção no curtíssimo prazo, as usinas garantem que não existe o risco de os distribuidores ficarem sem álcool. “Não há previsão de redução do percentual de álcool na gasolina para atender o aumento da demanda. O bom senso indica que a produção aumente no ano que vem, mas tudo dependerá do preço futuro”.