Mercado

Venda recorde não se repete em 2005 mas o mercado é promissor

As condições que favoreceram exportações recordes de álcool do Brasil no decorrer de 2004 dificilmente irão se repetir no próximo ano, o que pode impedir um novo incremento dos embarques, afirmou Christoph Berg, analista de commodities da consultoria alemã F.O. Licht.

Na atual safra, o Brasil deve exportar mais de 2 bilhões de litros, ante cerca de 760 milhõe de litros na temporada passada.

“O preço da gasolina pode continuar alto, mas o etanol no Brasil pode não cair tanto como em 2004, o que levou o país a exportar muito”, afirmou Berg, ao participar da 4a Conferência Internacional da Datagro sobre Açúcar e Álcool, encerrada anteontem à noite.

Pressionados por estoques de álcool elevados no Brasil e perspectivas de uma safra recorde de cana, os preços internos do combustível despencaram nos primeiros meses do ano, chegando a ficar abaixo do custo de produção.

Em março, antes da safra, o metro cúbico (mil litros) do anidro era negociado por R$ 350, ante os atuais R$ 900. Com isso, o produto tornou-se extremamente competitivo no mercado internacional, conseguindo, por exemplo, a façanha, inédita, de ser exportado diretamente para os Estados Unidos, mesmo com a incidência de um elevado imposto de importação.

Também contribuiu para o aumento das vendas externas de álcool a elevação nos preços do petróleo, que encareceram a gasolina em todo o mundo. “As exportações foram muito repentinas. Os estoques relativamente altos no Brasil deixaram os carregadores preocupados, então eles desovaram”, afirmou Ricardo Ferreira Santos, superintendente da Crystalsev.

Mas a situação pode mudar em 2005. O preço interno do álcool está bastante remunerador no momento, devido à redução dos estoques, o que já tem reduzido os embarques nos últimos meses.

Num prazo mais longo, contudo, o potencial para o Brasil é grande, segundo Berg, ressaltando que os produtores locais deveriam focar a atenção em Japão, EUA e União Européia — mercados que têm mais condições –inclusive financeiras– para bancar um programa de álcool.

Segundo ele, a UE tem diretivas para misturar até 5,75 por cento de etanol em 2010 e não terá condições de, sozinha, atender toda a demanda.

Além disso, segundo o analista, o fechamento de um acordo UE-Mercosul abriria espaço para compras de mais de 1 bilhão de litros por ano do bloco sul-americano com vantagens tarifárias — e esse volume seria atendido apenas pelo Brasil.

No caso do mercado norte-americano, restam também as exportações via Caribe, que não são taxadas pelos EUA até que excedam 7 por cento do consumo do país.

“O Caribe é um grande canal para o álcool do Brasil, por isso são tantos os investimentos programados”, disse o analista, citando entre os projetos o da Cargill e Crystalsev, para 63 milhões de galões em El Salvador; o da Chevron Texaco, com 50 milhões a 100 milhões de galões no Panamá; o da Petrojam, com 40 milhões na Jamaica; e da Angostura, com 100 milhões em Trinidad e Tobago.

Segundo a trading Coimex, os projetos totalizarão uma capacidade de 3,11 bilhões de litros. A capacidade atual é de 365 milhões.