Com as chances crescentes de se implementar, afinal, o Protocolo de Kioto, após o passo decisivo – embora ainda não definitivo – dado pela Rússia, o movimento mundial em busca de energias mais limpas ganha novo impulso.
Obviamente, com uma “mãozinha” da atual volatilidade do mercado internacional de petróleo. Essa busca alternativa de combustível e energia, mais do que garantir a sobrevivência do planeta, passou a ser uma necessidade de sobrevivência econômica. Foi justamente essa a preocupação que se notou – em alguns de forma clara, em outros, de forma mais velada – em praticamente todos os discursos feitos durante a sexta edição do Challenge Bibendum, um evento realizado pela Michelin, esta semana, em Xangai, segundo relata a repórter Silvia Penteado.
Muito já se andou nos últimos anos, conforme destacou Edouard Michelin, quarta geração da família, atualmente no comando dos negócios. O grande desafio, segundo ele, é acelerar o ritmo dessa evolução, hoje ainda insuficiente. Segundo destacou Jean-Martin Folz, presidente mundial da Peugeot/Citroën, a cada ano se agrega 50 milhões de carros à frota mundial de 815 milhões de veículos. E, para que essa aceleração ocorra, é necessário uma maior sinergia entre governos, empresários e consumidores. “É justamente isso que a Michelin pretende com o seu evento anual”, explica Patrick Oliva, diretor do Challenge Bibendum.
Não por acaso, a escolha para sede desta sexta edição do evento recaiu sobre Xangai. A China representa uma síntese elevada à potência máxima dos grandes desafios que o planeta vai enfrentar nos próximos anos: atender à necessidade humana de transporte sem acabar com o planeta. Se o problema de poluição na China já é crítico hoje, em que boa parte da locomoção é feita por bicicleta – há cerca de 600 milhões delas na China -, será impossível em 2020, quando se prevê que haverá no país 176 milhões de carros. Um crescimento que está se dando de forma extremamente acelerada: apenas no primeiro semestre deste ano, a frota do país cresceu 27% em relação ao mesmo período do ano passado: foram vendidos 2,7 milhões de automóveis. No ano, esse crescimento cai um pouco – 13% -, segundo as estimativas, mas ainda assim é expressivo. Para se ter uma idéia do potencial chinês nessa área, basta ver que o país, com uma renda per capita crescente, tem hoje 8 veículos por mil habitantes em idade de dirigir enquanto o Brasil, por exemplo, tem 122, a Coréia, 237, o Japão, 502, a Alemanha, 634, e os EUA, 940.
A principal vantagem do evento, segundo destacaram alguns participantes, é oferecer uma chance de comparação prática das várias soluções em estudo pelo mundo. Na edição deste ano, havia 150 veículos, entre carros de passeio e ônibus, envolvidos numa competição em que, ao final, praticamente todos são de uma forma ou de outra premiados. As propostas de novos combustíveis foram inúmeras – biodiesel, eletricidade, etanol, gás natural -, com espaço, inclusive, para o petróleo. Mas a grande aposta para o futuro parece ser mesmo o hidrogênio e as fuel cells. “Não viemos aqui para mostrar conceitos retóricos, mas para apresentar propostas possíveis de como legar uma mobilidade sustentável às futuras gerações”, destacou Dan Werbin, diretor da Volvo da América do Norte, traduzindo de certa forma o sentimento geral dos participantes.