Impulsionada pelo elevado patamar das cotações de commodities de exportação como a soja no primeiro semestre, a receita agrícola das lavouras brasileiras – “da porteira para dentro” – deverá alcançar US$ 40,8 bilhões em 2004, 17,2% mais que no ano passado, conforme projeção atualizada da MB Associados. Se confirmada a expectativa, será o terceiro aumento anual consecutivo, em uma tendência que deverá ser interrompida em 2005 em consequência da combinação entre preços mais baixos no exterior e custos em alta, de acordo com a consultoria.
No cenário traçado, Glauco Rodrigues Carvalho, economista da MB, divide as lavouras em dois grupos principais: os grãos, que encaram perspectivas pessimistas de cotações no mercado internacional, e o grupo formado por cana, café e laranja, que têm preços externos em recuperação e deverão evitar uma queda maior da receita agrícola em 2005, prevista pela consultoria, hoje, em US$ 40,4 bilhões. Cálculos do Valor Data com base na média mensal dos contratos futuros de segunda posição de entrega nas bolsas de Chicago e Nova York mostram que, em setembro, o preço médio da soja, por exemplo, alcançou US$ 5,6730 por bushel, com queda de 9,21% nos últimos doze meses até então. Já no caso do açúcar, a mesma comparação mostra alta de 40,88%.
Além da queda de preços dos grãos, e das ainda tímidas esperanças de recuperação significativa até o período de colheita no país, pesa sobre o panorama para 2005 o atual aumento de custos, já que o país já está em fase de plantio. O levantamento da MB mostra que, em agosto de 2003, os produtores de algodão – cuja cotação média caiu 22,14% em Nova York nos últimos doze meses até setembro – precisavam de 32,1 sacas de 15 quilos do produto para comprar uma tonelada de adubo; em agosto deste ano, precisavam de 40,2 sacas. Mesmo o café, cujo preço médio subiu 19% também em Nova York, perdeu nessa relação; em agosto de 2003, os cafeicultores trocavam 3,4 sacas de 60 quilos por uma tonelada de adubo; em agosto deste ano, tiveram que gastar 3,9 sacas.
Assim, diz Carvalho, a rentabilidade operacional (relação entre receita e custo) das principais lavouras tende a aprofundar perdas. Se a rentabilidade da soja plantada em Londrina (PR) foi de 81% na safra 2003/04, a tendência é de baixa para 20% em 2004/05. Para o grão de Primavera do Leste (MT), a queda deve ser de 46% para variação negativa de 1%. (Fernando Lopes)