Mercado

Álcool: preço pode continuar em alta

O preço do álcool combustível disparou (de pouco menos de R$ 1 para R$ 1,17, em média) nos últimos dias. Diferentemente do movimento ocorrido no dia 24 de agosto, quando os preços foram aumentados e reduzidos dois dias depois, o reajuste desta vez veio para ficar. E o setor não admite, mas pode ocorrer novo aumento logo após o segundo turno das eleições, quando os preços da gasolina e do diesel aumentarem.

Também desta vez, o preço do combustível encontra explicação. Em agosto, não havia nenhum motivo aparente para a alta. Agora, os produtores também estão recebendo mais pelo litro de álcool vendido. A justificativa de fontes do setor é um “aperto” na oferta do produto, acompanhado de uma expansão do consumo. A conversão de carros movidos a gasolina para o os bicombustíveis é uma realidade. Além dos novos veículos que estão sendo produzidos.

Mas o item exportação também entra na história como um componente responsável pelo aumento. Segundo um técnico que preferiu manter a identidade em sigilo, o crescimento da exportação tem grande responsabilidade na redução da oferta. Ele diz que em 2003 foram exportados cerca de 700 milhões de litros de álcool. A previsão para 2004 é de 1,8 milhão a 2 milhões de litros destinados à exportação.

Esse técnico garante, analisando o mercado, que não faltará álcool, porque o Nordeste também está produzindo, quando a safra do Centro-Sul está no final, “mas será uma oferta apertada”. Mas é também ele quem aponta que o setor pode aumentar até chegar ao máximo de 70% do preço da gasolina, para cumprir o acordo feito com o governo.

Aumento sorrateiro

O Sincopetro (Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo do Estado de São Paulo) afirma, em nota enviada aos jornais, que desde o final de junho o álcool hidratado subiu cerca de 27%, de acordo com dados do Cepea-Esalq (Centro de Estudos Avançados de Economia Aplicada), da USP. “Somente em setembro, a variação é de mais de 7%”, aponta o sindicato.

“As usinas vêm aumentando os preços, sorrateiramente, e o governo não as questiona para que expliquem o porquê de isso estar ocorrendo”, aponta o texto do Sincopetro. Hélio Pirani Fiorin, diretor do sindicato, diz que os aumentos se intensificaram no final de setembro, mas já vinham ocorrendo. “De 25 de junho até o último dia 1º de outubro, o preço pago ao produtor, sem impostos e fretes, passou de R$ 0,53798 para R$ 0,72076, um aumento de 34%”, afirma. Ele diz que o custo do álcool para o posto de combustível está em cerca de R$ 1.

“Temos que alertar as autoridades, porque os aumentos estão chegando sem que se expliquem os motivos”, diz o sindicalista. Ele comenta que a margem dos revendedores já está achatada e com a migração de veículos a gasolina para o álcool a situação piora. “Os revendedores ganham cerca de R$ 0,10 no litro de álcool e R$ 0,25 no litro da gasolina, em média. Se começarem a vender muito álcool e pouca gasolina eles não vão agüentar”, diz.

Entidade reconhece imprevisibilidade de valores

A Unica (União da Agroindústria Canavieira de São Paulo), a mais questionada sobre o aumento do produto, por representar os produtores, emitiu uma nota para esclarecer o que está ocorrendo.

“A comercialização de álcool combustível é livre no País desde a desregulamentação do setor realizada no fim dos anos 90. Os preços, portanto, são conseqüência das relações comerciais num mercado com 350 produtores, uma centena de distribuidores e mais de 28 mil postos de combustíveis”, registra o início da nota. A sazonalidade da produção é outra justificativa alegada pela entidade. “Ela (a produção) é realizada em 6 meses para atender uma demanda ao longo de 12 meses. A ausência de estoques reguladores causa, nestas circunstâncias, alta volatilidade de preços”, diz a Unica, dizendo que hoje a formação de estoques recai sobre o produtor.

“O fato é que é impossível de se prever os preços que serão praticados pelo produtor no dia de amanhã”, aponta a entidade, recomendando o acompanhamento dos preços via pesquisas divulgadas pelo Cepea (www.cepea. esalq.usp.br) .

“Os preços têm variado nesta safra – continua a nota. No caso do álcool hidratado, por exemplo, saíram de R$ 0,88/litro em fevereiro de 2003, caíram para R$ 0,34/litro em março de 2004 e estiveram ao redor de R$ 0,65/0,68 nas últimas 9 semanas. Os números divulgados pelo Cepea/Esalq/USP na segunda-feira (4 de outubro) indicam que na semana de 27 de setembro o preço do álcool hidratado ao produtor foi de R$ 0,72/litro, numa variação de 5,7% em relação à semana anterior. Isso é resultado da já referida relação entre oferta e demanda do produto, o que explica tanto a queda abrupta nos primeiros meses do ano, quanto os aumentos subseqüentes”.

Mesmo reconhecendo a alta, a Unica destaca que “no álcool hidratado os preços ao consumidor continuam competitivos, ao redor de 55% do preço da gasolina, no caso de São Paulo. O preço do anidro pago ao produtor, por sua vez, continua 50% inferior ao preço de venda da gasolina pura na refinaria”.