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Plano do governo incentivou compra de energia mais cara

Plano do governo incentivou compra de energia mais cara

Distribuidoras de energia elétrica foram incentivadas, pelas regras do plano do governo de socorro ao setor, a abrir mão de comprar energia mais barata no leilão organizado em 30 de abril.

Em vez disso, elas preferiram continuar comprando energia no mercado à vista, chamado também de “spot”, em que os preços estão cotados acima de R$ 800 por megawatt-hora (MWh).

Essa energia mais cara será paga com o empréstimo de R$ 11,2 bilhões disponibilizado pelo governo. O custo maior será repassado depois para os consumidores.

São os casos, por exemplo, da Celesc, de Santa Catarina, da Amazonas Energia e da DME Distribuidora, de Minas Gerais.

As empresas utilizariam o leilão para tapar o rombo criado por 3.200 megawatts que deixaram de ser entregues às distribuidoras após o fim de contratos em 2013.

Mas, ainda que essa energia seja mais barata, ela teria que ser paga no curto prazo pelas distribuidoras, já a partir de 1º de maio.

Já o empréstimo só começará a ser pago em novembro de 2015, via Conta de Desenvolvimento Energético (CDE) –um encargo oculto presente na conta de luz e bancado pelos consumidores.

Para evitar uma crise financeira para algumas distribuidoras, a Aneel diminuiu a participação delas no pleito.

Ao todo, as empresas demandaram apenas 2.400 MW dos 3.200 MW faltantes, e conseguiram comprar apenas 2.046 MW.

Segundo cálculos da TR Soluções, ainda faltam 720 MW para as distribuidoras. Esse volume terá que ser comprado no mercado à vista, financiado pelo empréstimo.

Mau negócio

Para o consumidor final, a manobra foi um mau negócio. A diferença dos preços firmados no leilão, R$ 268,33, é cerca de 60% menor do que os do mercado “spot”, fixados pelo Preço de Liquidação das Diferenças (PLD).

Descontado o que as distribuidoras já consumiram do empréstimo, ainda sobram R$ 2,8 bilhões para serem gastos até o final do ano. Para manter a saúde das empresas, o governo precisará aumentar o total do empréstimo em ao menos R$ 1 bilhão.

O valor é o necessário para cobrir o rombo das empresas no período, segundo cálculos da Comerc Energia.

Maquiagem

Logo após o término do leilão, o secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia (MME), Márcio Zimmermann, afirmou que a “exposição involuntária” das empresas havia caído para 2.400 MW, ante o número informado anteriormente pelo próprio MME de 3.200 MW.

Com a venda de 2.046 MW no leilão, a efetividade do pleito teria coberto 85% da exposição das empresas.

No entanto, esse novo valor foi apenas a demanda das empresas no leilão, conforme afirma Nelson Leite, presidente da Associação Brasileira dos Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee).

“As empresas fizeram os pedidos, que, juntos, somaram 2.400 MW. Essa não é toda a exposição das companhias, apenas o que elas definiram para o leilão.”

Algumas empresas demandaram menos de 20% do que era necessário. Outras, nem participaram do leilão.

Isso diminui a efetividade do leilão, que segundo agentes do setor, foi de apenas 74% do necessário.

Por outro lado, empresas compraram mais que o limite estabelecido. A regra dos leilões A-0 é de no máximo 1% da energia que já possuem contratada, segundo Renato Kloss, do escritório Siqueira Castro Advogados.

Fonte: Folha de S. Paulo