À medida que o preço do óleo cru se aproxima de US$ 50 o barril, os preços da gasolina estão novamente subindo, encerrando um período incomum no qual os preços da gasolina estavam caindo apesar dos aumentos no preço do petróleo.
Os preços do óleo cru e da gasolina começaram a se mover em direções opostas em junho, um enigma que foi uma surpresa agradável para os motoristas no auge da temporada de verão.
Mas na semana passada, os preços da gasolina saltaram 5,1 centavos de dólar o galão, para uma média de US$ 1,917 o galão (R$ 1,45 o litro), ainda abaixo da média recorde de US$ 2,06 o galão de maio passado, mas 33 centavos mais alto que um ano atrás, disse o Departamento de Energia. Se os preços do óleo cru continuarem subindo, como esperam muitos representantes da indústria petrolífera, os preços da gasolina também deverão continuar subindo, assim como o preço do combustível para aquecimento doméstico.
O fim da divergência entre os preços do óleo cru e da gasolina era inevitável, disseram analistas da indústria, por um motivo simples: apesar das teorias de conspiração, oferta e demanda estavam por trás do movimento anormal deste verão, e estão por trás agora.
A divergência causou muita especulação por parte de teóricos de conspiração sobre a possibilidade de motivação política por parte das companhias de petróleo, que tentavam influenciar a eleição presidencial.
“Nenhuma única entidade pode controlar o mercado da gasolina. Há concorrentes competitivos demais para que isto aconteça”, disse James Burkhard, diretor de análise mundial de petróleo da Cambridge Energy Resource Associates.
“A capacidade disponível de refinação em nível global está precariamente baixa no momento. Isto poderá significar que veremos preços recordes para a gasolina em breve.”
Quando corrigida pela inflação, é claro, a gasolina continua mais barata do que durante a crise do petróleo do final dos anos 70 e início dos anos 80; a gasolina atingiu uma média nacional recorde de cerca de US$ 2,80 o galão em 1981, quando a inflação é levada em consideração.
Ainda assim, o movimento de preços anormal deste verão provocou muitas suspeitas. “Veja o que tem ocorrido desde meados de junho de 2004. O óleo cru apresentou uma alta acentuada, mas meses depois os preços da gasolina continuam caindo”, dizia uma mensagem postada em um site, www.abovetopsecrect.com. “Ora, há um ano eleitoral em andamento.”
Mas como explicaram analistas da indústria, o temor dos consumidores com os preços mais elevados dos combustíveis no início do verão explica, em parte, o motivo dos preços terem-se mantido relativamente baixos nos últimos meses.
O consumo de gasolina caiu cerca de 2% em agosto, e a importação de gasolina refinada vinha crescendo constantemente para cerca de 1,1 milhão e barris por dia ao longo do verão, em comparação a 600 mil a 700 mil barris no início do ano, segundo John Telmy, economista-chefe do Instituto Americano do Petróleo, em Washington. Conseqüentemente, os preços da gasolina caíram.
Mas agora estão subindo. Devido à recente alta acentuada nos preços do petróleo, o efeito da maior oferta e menor consumo somado com os ganhos em eficiência nas refinarias do país, de forma que são capazes de produzir mais gasolina, não está mais sendo suficiente para a manutenção dos preços da gasolina. Os preços do óleo cru são o fator mais importante na determinação do custo da gasolina, responsáveis por cerca da metade do preço de varejo da gasolina.
Os motoristas poderão olhar pata os preços do diesel para ter uma idéia do caminho que esperam os preços da gasolina. O diesel, utilizado principal pela frota de caminhões, é normalmente mais barato que a gasolina comum, mas o preço do diesel teve altas recordes nas últimas semanas, à medida que as refinarias lidavam com os preços mais altos do óleo cru.
O diesel subiu nesta semana 10 centavos de dólar, para US$ 2,01 o galão, em comparação à semana anterior, ficando cerca de 10 centavos de dólar mais caro do que um galão de gasolina.
“Não há como escapar de um aumento nos preços da gasolina quando o cru está em tal patamar”, disse Mark Baxter, diretor do Instituto Maguire de Energia da Universidade Metodista do Sul, em Dallas. Baxter, que espera um aumento de 20 a 25 centavos de dólar no preço da gasolina nas próximas semanas, disse que as baixas reservas e a baixa capacidade de produção excedente de petróleo ao redor do mundo poderá colocar os preços do óleo cru a US$ 60 o barril caso uma grande interrupção na oferta venha a ocorrer.
Refletindo a preocupação quanto ao impacto dos preços mais elevados do óleo cru, os futuros de gasolina negociados na Bolsa Mercantil de Nova York subiram 1,16 centavo de dólar nesta terça-feira, fechando a US$ 1,3579 o galão de gasolina no atacado para entrega em outubro.
As refinarias nos Estados Unidos têm estado no limite ao longo do último mês, enquanto lidavam com o efeito dos preços mais altos do óleo cru e as interrupções na oferta provocadas pelos recentes furacões.
De forma semelhante, os proprietários de imóveis provavelmente pagarão mais para aquecer seus lares neste inverno, especialmente no Nordeste, onde é consumido mais de 80% do óleo para aquecimento. Os preços do óleo para aquecimento devem subir quase 20%, de US$ 1,36 o galão para US$ 1,60, segundo estimativas do Departamento de Energia.
Ao todo, os donos de imóveis deverão gastar até US$ 500 a mais neste inverno do que no ano passado em óleo para aquecimento se queimarem cerca de 1.000 galões do combustível.
Combustível para militares
Em um sinal de que o governo Bush pode estar ficando cada vez mais preocupado com as mudanças inesperadas nos mercados de petróleo, o Departamento de Energia concordou na semana passada em liberar 1,7 milhão de barris de petróleo da Reserva Estratégica de Petróleo para três refinarias que alegavam estarem carentes de óleo cru devido ao furacão Ivan.
Mas tal medida deverá ter pouco impacto nos preços de varejo da gasolina, já que visa em parte aliviar o aperto em outras áreas do mercado de combustíveis. A Petro-Hunt de Dallas, a empresa dona de uma das refinarias, disse ao Departamento de Energia que precisava de 300 mil barris da reserva para poder continuar produzindo combustível para os jatos das forças armadas americanas.
Outro indicador que pode pressagiar um aumento nos preços da gasolina aparecerá na quarta-feira, com a divulgação dos números semanais de estoques da Administração de Informação de Energia.
Uma pesquisa da agência de notícias Reuters apontou uma expectativa de queda de 3,8 milhões de barris nos estoques de óleo cru, naquele que seria o nono declínio consecutivo, à medida que a recuperação das plataformas de petróleo no Golfo do México após a passagem dos furacões continua lenta.
Cerca de 40% da capacidade de refinação de petróleo do país se encontra na Costa do Golfo, que tem sido alvo das tempestades recentes.