Apesar de o preço do petróleo ter ultrapassado a barreira de US$ 50 o barril durante o dia de ontem, a Petrobras mantém a determinação de não elevar agora o preço do diesel e da gasolina, principais combustíveis vendidos pela estatal. Segundo avaliação do mercado, estes preços equivalem a um patamar de negociação do barril de petróleo a US$ 36.
O presidente da Petrobras, José Eduardo Dutra, não confirma esta relação e deixa em aberto prazos para tomada de decisão. “O que falei na semana passada já não vale para esta semana. Essa é uma decisão tomada no dia a dia”, afirmou.
Na semana passada, o executivo afirmara serem necessários mais dez dias de avaliação. O prazo coincide com a conclusão do primeiro turno das eleições municipais, mas ele nega que haja relação entre a votação e um possível reajuste de preços. “Uma coisa não tem nada a ver com a outra. Não somos pautados pelas eleições”, reiterou. Segundo ele, a crise na Nigéria, por exemplo, “é um fator novo que pode influenciar nos preços”.
Analistas estimam que a estatal pode ter deixado de ganhar até US$ 1 bilhão este ano ao retardar o reajuste, além de “queimar” reservas de US$ 2 bilhões acumuladas no ano passado, quando manteve os preços internos acima da média apurada no mercado internacional.
A preocupação de Dutra com a Nigéria se justifica pelo fato de a maior parte do óleo importado pelo Brasil vir daquele País. Mas para analistas, isto pode ser apenas subterfúgio para explicar um reajuste logo após as eleições.
“A crise da Nigéria é o fato atual que pode justificar uma alta nos preços”, comentou Mônica Araújo do BES Securities. Para a analista, as ações da estatal ficaram aquecidas na última semana com a expectativa de que a companhia reajustaria seus preços logo após a eleição. “Isso pode se reverter se não vier o aumento esperado”, argumentou.
O diretor do CBIE (Centro Brasileiro de Infra-Estrutura) Adriano Pires, trabalha com esta possibilidade. Ele acredita que a estatal adie o reajuste para depois do segundo turno das eleições em São Paulo, que estaria mais relacionada com o governo federal.
“No ano passado, a Petrobras manteve seus preços mais altos do que no mercado externo para contribuir com o superávit primário. No primeiro semestre deste ano, não repassou o reajuste para não trazer impactos do cenário internacional para a inflação. Agora são as eleições”, avaliou Pires. Segundo cálculos do CBIE, a gasolina estaria defasada em 18%, o diesel em 27% e o GLP em 36%.
Questionado ontem sobre as críticas dos analistas à demora do repasse, Dutra alegou que nem mesmo no mercado há consenso sobre a defasagem. “Os analistas julgam que há um intervalo entre a diferença de preços do mercado interno para com o internacional que varia de 10% a 30%. É o mesmo que dizer que a população da China varia entre 500 milhões e 1 bilhão de habitantes”, brincou.
Ele voltou a dizer que a estatal acompanha atentamente os preços internacionais, mas considera uma cesta de óleos baseada em vários mercados. “Nós trabalhamos com os nossos números e esses números são internos. Não pretendemos divulgá-los”, afirmou. O diretor financeiro da Petrobras, José Sérgio Gabrielli também afirmou que a estatal ainda aguarda uma definição no nível internacional dos preços do barril. Segundo o executivo, as variações estão sendo constantes e não permitem a definição do índice ideal.
“Quando houver uma maior fixação dos valores, a Petrobras pode mexer nos seus preços. Antes disso, não dá para ficar passando toda a volatilidade do mercado externo para os preços internos”, disse. Ele lembrou que a estatal está reajustando os preços dos combustíveis sobre os quais ela mantém contratos. Mas no caso da gasolina e do diesel, o compromisso é acompanhar o mercado internacional. “E isso nós estamos fazendo” afirmou. Gabrielli.
Prejuízo
A demora da Petrobras em repassar a alta internacional prejudicou a Refinaria Ipiranga, segundo sua diretora superintendente, Elizabeth Telechea. “A produção foi reduzida ao mínimo possível”, disse. Segundo a diretora, a empresa termina de comercializar esta semana a carga adquirida no mês passado e, com isso, terá de ir ao mercado novamente para fazer cotações. “Com os preços na altura em que estão, não sei como vamos fazer”, afirmou.