O transporte de grandes embarcações vai parar por tempo indeterminado na hidrovia Tietê-Paraná a partir de sábado. Dos 21 comboios que trafegam pela via, sete conseguirão manter a atividade, o equivalente a 30% do total de embarcações. Isso ocorre porque haverá nova diminuição do calado (distância mínima entre a superfície da água e a parte mais baixa da embarcação), que passará de 2,20 metros para 1,80 metros, segundo o Departamento Hidroviário.
A maioria dos comboios não consegue navegar nestas condições. A medida foi tomada para priorizar a geração de energia nas usinas hidrelétricas, com o objetivo de garantir o abastecimento, principalmente durante a Copa do Mundo, marcada para começar em 12 de junho.
A restrição do transporte na hidrovia Tietê-Paraná já causou prejuízo estimado em R$ 700 milhões desde o início do ano. De fevereiro a abril, deixaram de ser transportadas 3,9 milhões de toneladas. No período, passaram pelo canal 620 mil toneladas ante 4,5 milhões no mesmo intervalo de 2013, redução de 86%. O setor vive crise semelhante à enfrentada em 2001, ano do “apagão”, com atrasos nas viagens e redução do volume de carga desde o início deste ano, por causa da queda nos níveis dos reservatórios.
Com as restrições na hidrovia, o escoamento da safra de milho, no segundo semestre, será comprometido. Os testes de transporte de etanol pela Tietê-Paraná, previstos para iniciar no próximo mês, também serão suspensos, conforme o diretor do Departamento Hidroviário, Casemiro Tércio de Carvalho. Ele deverá divulgar hoje um balanço dos prejuízos causados pela interrupção parcial da hidrovia. Segundo Carvalho, apenas as empresas Dreyfus e Sartiko terão condições de manter a atividade no local, pois possuem embarcações compatíveis com o calado de 1,80 metros que passará a valer. No entanto, a capacidade destes comboios é de três mil toneladas, metade do volume das grandes embarcações, que é de 6,2 mil toneladas em condições normais de navegabilidade.
O empresário Nelson Michielin, diretor da DNP Indústria e Navegação, avaliou que terá prejuízo de US$ 25 milhões. A empresa, que atua no rio há mais de 20 anos e tem exportadores como principais clientes, vai dispensar 250 funcionários. “Não temos como ficar oito meses parados”, afirmou o empresário ao início do próximo ano, quando está previsto o início do período chuvoso.
A Tietê-Paraná é uma importante via de escoamento de soja e farelo de soja para exportação. Os custos do transporte hidroviário equivalem a um terço do rodoviário, o que significa que ficará mais caro para o exportador se os produtos tiverem de seguir até o Porto de Santos pelas estradas. Na hidrovia, o custo do transporte varia de R$ 40 a R$ 45 por tonelada, enquanto na rodovia, entre R$ 130 a R$ 170, e pode chegar a R$ 400 no auge da safra — caso dos contratos de curto prazo. Pela hidrovia, são transportados ainda madeira, celulose, cana-de-açúcar e milho, entre outros produtos.
Capacidade de carga diminuiu para 4,2 mil t
Desde ontem, o calado na hidrovia passou a ser de 2,20 metros — o anterior era de 2,30 metros e o normal é de 3 metros. Com isso, a capacidade de carga das barcaças diminuiu de 4,4 mil toneladas para 4,2 mil toneladas. Mesmo assim, para passar pelo trecho em Buritama, é necessária a realização de ondas de vazão, que consistem em reduzir a geração de energia no reservatório de Três Irmãos, em Pereira Barreto, e turbinar em Nova Avanhandava, possibilitando o aumento momentâneo do volume da água no trecho mais problemático.
Na quarta-feira, oito comboios carregados de 38 mil toneladas de soja, farelo, celulose e madeira conseguiram atravessar o reservatório de Nova Avanhandava, em Buritama, considerado o trecho mais crítico para a navegação, após mais de 24 horas de espera.
Michielin critica a situação e afirma que o uso múltiplo das águas não está sendo respeitado. “O ONS (Operador Nacional do Sistema) está priorizando a geração de energia”, afirma. A DNP tinha ontem quatro comboios parados em Nova Avanhandava, aguardando as ondas de vazão para conseguir continuar a viagem. Conforme o empresário, essas paradas provocam atraso na chegada destas mercadorias aos destinos. Um trajeto de ida e volta entre os terminais de Anhembi e São Simão levava, em média, 9 dias, mas hoje, chega a consumir 20 dias para ser percorrido. O mesmo ocorre entre Anhembi e Três Lagoas (MS).
Hidrelétricas
Para o empresário, as operadoras deveriam parar de gerar energia nas hidrelétricas do Tietê. “O que elas geram, muito pouco representa em relação à geração total do País”, afirma. Ele conta que fato semelhante foi feito no rio Mississipi, nos Estados Unidos, que parou de gerar energia. “A hidrovia de hoje não é o que era antigamente, e justifica, sim, a redução da geração de energia que estamos falando”, complementa, afirmando que, por ano, são transportados 4,5 milhões de toneladas de grãos e farelos. Considerando o valor aproximado do grão, de US$ 700/tonelada, isso significa US$ 3,2 bilhões de divisas para o País.
(Fonte: Folha da Região – Araçatuba/SP)