Diante da expectativa de baixa de 8% na safra na região Centro-Sul do país para este ano, a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) anunciou que priorizará a produção de etanol em relação ao açúcar a fim de evitar queda na oferta do combustível no mercado. Segundo a entidade que representa as usinas, 56,44% da cana processada será destinada à produção de álcool, com melhor retorno financeiro. Apesar dessa expectativa, o setor não acredita que a decisão resulte em aumento imediato no preço do açúcar.
Mudanças climáticas ocasionadas por um esperado “El Niño” para o segundo trimestre, no entanto, podem afetar as estatísticas no meio do ano, de acordo com o representante regional da Unica em Ribeirão Preto (SP), Sérgio Prado. A entidade também confirmou que devido a dificuldades financeiras dez usinas pararão durante esta safra, dentre elas uma em Jardinópolis (SP).
Os dados divulgados pela Unica esta semana apontam que as lavouras devem gerar, a partir de abril, 580 milhões de toneladas de cana, 16,94 milhões a menos do que o registrado em 2013. Diminuição resultante da perda de produtividade ocasionada pela falta de chuvas em janeiro e fevereiro, o que obrigou os produtores a adiarem o início da safra mesmo com uma sobra de 20 milhões de toneladas da safra anterior.
A menor produção de cana foi anunciada mesmo diante de uma área 5% maior de colheita em 2014 – 7,82 milhões de hectares diante de 7,45 milhões em 2013 -, proporcionada pela redução da renovação dos canaviais – e pela cana que não foi colhida na safra anterior. “Houve mais área disponível para colheita, isso reduziu o efeito da seca”, afirmou Sérgio Prado.
A diminuição na colheita projetada para esta safra, no entanto, não representará queda na oferta do etanol no mercado, de acordo com a entidade. A expectativa é de que as empresas reduzam de 34,29 milhões de toneladas para 32,50 milhões de toneladas a produção de açúcar extraído da cana para privilegiar a produção de 25,87 bilhões de litros de etanol este ano, 1,20% a mais em relação à safra anterior.
Além da maior demanda pelo combustível, as usinas argumentam que a comercialização do etanol é mais rentável do que a do açúcar. “Toda a perda foi para a carteira do açúcar”, diz Prado, que apesar da menor quantidade de açúcar no mercado não acredita em um aumento repentino nos preços. “Há um, estoque maior, um excedente no mercado internacional que derrubou o preço nos últimos anos.”
Mudanças climáticas
De acordo com o representante da Unica, as projeções da colheita podem ser revistas até o meio do ano caso a incidência de chuvas seja alterada com um esperado “El Niño” no segundo trimestre, conforme recente anúncio da Organização das Nações Unidas (ONU). O fenômeno marcado pelo aquecimento da superfície do mar no Oceano Pacífico pode, entre outras coisas, aumentar o nível de precipitações no Brasil. Por um lado, mais chuvas representam menor tempo de colheita. Por outro, possibilitam maior crescimento da cana no campo. “Podemos ter que reavaliar muita coisa, isso pode mudar o perfil da safra.”
Renovação da lavoura
A perda de produtividade já observada este ano por causa da seca deverá ser sentida em 2015, anuncia a entidade que representa as usinas. A baixa renovação das lavouras por falta de condições econômicas dos produtores, se por um lado aumentou a área plantada este ano, poderá repercutir nas próximas colheitas, em um menor aproveitamento por hectare. “O reflexo agrícola que fica quando você tem menos dinheiro no caixa é menor condição de fazer o trato cultural correto, de renovar a cana.”
Fechamento de usinas
Se no campo o baixo retorno financeiro repercute em menos investimentos pela produtividade por hectare, na indústria isso representa o fechamento de usinas. Na região Centro-Sul, dez unidades não processarão cana este ano, dentre elas uma em Jardinópolis (SP). Ainda assim, Prado analisa que o parque industrial tem capacidade instalada suficiente para moer toda a matéria-prima desta safra.
(Fonte: Rodolfo Tiengo/G1 – Ribeirão e Franca)