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Consumo forte sustenta preço alto do etanol

Consumo forte sustenta preço alto do etanol

A demanda persistentemente aquecida por combustíveis no país deve conter a queda dos preços do etanol hidratado na usina,

esperada para o início de cada safra. O viés ainda é de alta para as cotações, mesmo diante do fato de que quase metade das usinas do Centro-Sul já começaram a processar cana da nova safra, a 2014/15.

Ontem, o indicador diário Esalq/BM&FBovespa posto em Paulínia (SP) subiu expressivos 2,98%, a R$ 1.348 o m³, a sexta alta consecutiva. O diretor da comercializadora de etanol Bioagência, Tarcilo Rodrigues, observa que não é só a demanda por etanol que está alta no país, mas a de combustíveis como um todo. Segundo dados da Agência Nacional de Petróleo, no mês de janeiro, o consumo de gasolina C (que tem 25% de etanol anidro) e de etanol hidratado juntos cresceu 10,5% em relação a janeiro de 2013. Em fevereiro, o aumento foi ainda maior, de 16,5% na mesma comparação.

“A demanda por combustíveis está crescendo e o motorista está aceitando a paridade mais alta do etanol com a gasolina. Ele está ainda demorando mais para migrar para o concorrente fóssil, porque já entendeu que essa paridade muda”, analisou Rodrigues. Desde o início de março não é mais viável economicamente para o consumidor usar etanol no Estado de São Paulo – que até então era o único Estado brasileiro onde essa escolha ainda valia a pena. Isso, conforme o parâmetro de mercado de que essa vantagem só existe quando o preço do biocombustível na bomba equivale a menos de 70% do preço da gasolina. Há, no entanto, estudos que indicam que essa eficiência energética do etanol equivale a 80% do rendimento da gasolina.

O fato é que mesmo com o preço mais alto do etanol nos postos – o preço médio no Estado de São Paulo foi de R$ 2,055 o litro na última semana – o consumo se manteve firme. Conforme dados divulgados ontem pela União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), as vendas de etanol hidratado feitas pela indústria somaram 1,008 bilhão de litros em março, 13,5% acima do registrado no mesmo mês de 2013. Na comparação com as vendas de fevereiro, houve um recuo de 11,5% em março, reflexo do Carnaval que fez com que o mês “perdesse” cinco dias úteis.

No acumulado da safra 2013/14, ou seja, entre abril de 2013 e março de 2014, as vendas de etanol hidratado realizadas pelas usinas cresceram 13%, para 14,6 bilhões de litros. As vendas de anidro, que é misturado na gasolina, aumentaram no mesmo período 19,9%, a 11 bilhões de litros.

O diretor da Bioagência afirma que, neste momento, há muitas usinas que já começaram a safra, mas as chuvas desta semana, que interromperam a colheita da cana em algumas regiões de São Paulo, estão mantendo os preços do etanol sustentados. “Tudo indica que não haverá um choque de preço muito drástico para baixo neste início de safra. As cotações, no entanto, vão recuar, mas talvez menos do que o usual, uma vez que a demanda está aquecida”, avaliou Rodrigues.

No mês de março, as usinas que já haviam começado a safra 2014/15 – ou que ainda estavam moendo cana da 2013/14 – produziram 172 milhões de litros de etanol hidratado, aumento de 19,4% em relação ao mesmo mês de 2013. A moagem de cana-de-açúcar mais que dobrou no mês, a 4,49 milhões de toneladas e a produção de açúcar foi a 161 mil toneladas, 210% maior.

(Fonte:  Fabiana Batista e Fernanda Pressinott – Valor Econômico)