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Mercosul cobra proposta global da UE

E fará contraproposta à oferta para carnes. Pairam dúvidas sobre resultado dos encontros. O Mercosul cobrou ontem da União Européia uma proposta melhor e global para a área agrícola, na negociação de um acordo comercial birregional.

“Se vamos assinar um acordo em outubro, é preciso que coloquem na mesa um quadro completo, claro e preciso da oferta”, disse Régis Arslanian, diretor de Departamento de Negociações Internacionais do Itamaraty. “Não sabemos se açúcar será incluído (na oferta) e nem como ficam os lácteos”, exemplificou. Representantes dos blocos fazem, nesta semana, nova rodada de discussões em Brasília.

“O Mercosul rejeita este ‘salame approach’ da União Européia”, disse Martín Redrado, secretário de Comércio da Argentina, referindo-se à apresentação, por partes, das propostas européias. Pelo ritmo dos trabalhos, paira uma dúvida sobre os resultados das reuniões desta semana.

As indicações são de que têm sido difíceis. Segundo um negociador, há discussões que não chegam há lugar algum. A reunião anterior em Bruxelas, em julho, foi suspensa pois o Mercosul achou insatisfatória a proposta da UE para carnes.

Segundo Arslanian, o Mercosul poderá fazer sua quarta oferta melhorada à UE, que inclui preferência em compras governamentais, serviços e investimentos. “Para bens e produtos industrializados, poderíamos melhorar a cobertura, hoje de 87,4%, para 90%”.

Desde junho o Mercosul acena com os 90%. Mas, segundo o embaixador, essa proposta depende de um novo passo dos europeus. E afirmou ser muito arriscado não ter equilíbrio nesta fase, porque levaria a um acordo desequilibrado. Açúcar deve ficar fora da proposta da UE, que oferece mais abertura para etanol.

Para carne bovina, principal item discutido até agora, Arslanian disse ser possível obter melhorias nas cotas oferecidas pela UE. O Mercosul exporta, sob cota e com tarifas menores, 125 mil toneladas à UE. Os europeus ofereceram nesta semana 56 mil toneladas sob cota, que se somariam à oferta anterior de 60 mil toneladas. E propuseram tarifa de 10% para as 241 mil toneladas. O Mercosul quer 315 mil toneladas.

Além disso, o setor privado do Mercosul não viu com bons olhos o fato de a proposta ser um inibidor para as vendas extra-cota. É que cada tonelada vendida a mais do que o proposto, mesmo que com tarifa cheia de até 150%, seria descontada da cota autorizada no ano seguinte. “Os europeus querem ter certeza de que não vamos inundar o mercado deles”, disse Arslanian.

Para ele, a proposta é insatisfatória porque o exportador pagaria uma cota extra e teria redução de cota no ano seguinte. “Mas é o início de uma negociação. Esperamos que melhorem a oferta até outubro.” O Mercosul prepara uma contraproposta, que deve apresentar hoje.

Os negociadores começaram a discutir bens agrícolas processados, como cerveja, palmito e café solúvel. Os negociadores da UE têm mantido silêncio sobre suas expectativas. Mas fontes ligadas ao bloco estão pouco otimistas sobre a assinatura de um acordo em outubro.