Nos Estados de Mato Grosso, São Paulo, Paraná, Minas Gerais e Rio Grande do Sul – os maiores tomadores de recursos do governo federal desde a safra 2000/01 – a maior fonte de recursos para o agronegócio ainda é o setor privado. Nelson Martin, diretor do Instituto de Economia Agrícola (IEA), vinculado à Secretaria de Agricultura de São Paulo, lembra que a redução da participação do Estado na tomada do crédito rural foi compensada justamente por essa maior presença das empresas privadas e dos produtores.
Segundo Martin, dos cerca de R$ 100 bilhões necessários para financiar a última safra, a 2003/04, R$ 32 bilhões saíram dos cofres públicos, enquanto R$ 35 bilhões foram investidos pelas indústrias e o restante foi bancado por produtores e cooperativas agropecuárias.
“As culturas que mais precisam de crédito, como cana e laranja, são financiados pelo setor privado. O Plano de Safra está centrado na safra de grãos”. Martin observa que as áreas de cana e laranja têm como principal fonte de recursos as operações de Adiantamento sobre Contratos de Câmbio (ACC), Cédulas de Produto Rural (CPR) e contratos de exportação de longo prazo, que garantem capital de giro.
No Mato Grosso, o crédito disponibilizado pelo governo federal atende em torno de 20% da necessidade dos produtores, segundo Homero Pereira, secretário de Agricultura do Mato Grosso e presidente da Federação de Agricultura do Estado (Famato). “O limite de crédito ao produtor ficou congelado. Isso tem feito com que ele tome a diferença no mercado para garantir o financiamento”, afirma.
Pereira diz que, mesmo com o crédito oficial insuficiente, a área plantada no Estado deve crescer em até 1 milhão de hectares em 2004/05, para 8 milhões. A área será ocupada com soja, milho e arroz. O Mato Grosso é a maior fronteira agrícola do país, com área agricultável de 25 milhões de hectares.
No Paraná, o aumento dos recursos do governo federal destinou-se principalmente à produção de soja, milho e pecuária nas áreas de fronteira agrícola, segundo Norberto Ortigara, economista do Departamento de Economia Rural (Deral), vinculado à Secretaria de Agricultura do Estado. “Do lado privado, os investimentos foram voltados à infra-estrutura de armazenagem e silagem”, afirma.
O Paraná não tem previsão para a safra 2004/05 mas o Banco do Brasil já anunciou que vai aplicar no Estado cerca de R$ 4 bilhões dos R$ 25,5 bilhões previstos para nesta safra. Na safra 2003/04 o Estado recebeu R$ 1,7 bilhão. No período, ampliou a produção em 1,8%, para 37,96 milhões de toneladas.
Em Minas Gerais, o Banco do Brasil deve aplicar R$ 3 bilhões no Estado nesta safra, montante 40% superior ao aplicado na safra passada. O Estado também não tem previsão para a próxima safra. Na temporada 2003/04, os mineiros produziram 9,5 milhões de toneladas, registrando um crescimento de 9,1%, acima da média nacional.
No Rio Grande do Sul, os recursos oficiais voltaram-se principalmente para o atendimento a pequenos e médios produtores e aos setores de soja, milho, arroz e trigo, de acordo com Gianfranco Bratta, engenheiro agrônomo da gerência de planejamento da Emater/RS. “Nas últimas safras, a soja determinou, e deve continuar determinando, o destino dos recursos oficiais e privados”, afirma Bratta. (CB)