Mercado

Alemanha e Tailândia buscam álcool brasileiro

O álcool combustível brasileiro desperta o interesse de dois novos mercados. Além das negociações com a China, um dos assuntos debatidos na recente viagem do presidente Lula àquele país, Alemanha e Tailândia também já demonstraram interesse em importar etanol. A negociação com a Alemanha, iniciada em 2003, prossegue nos dias 20 e 21 deste mês no Encontro Empresarial Brasil-Alemanha, em Stuttgart. Já os entendimentos com a Tailândia podem ter desfecho nesta semana, durante a visita ao País do primeiro-ministro tailandês, Thaksin Shinawatra, que está em São Paulo para a conferência da Unctad.

A negociação com a Tailândia, em fase mais avançada, envolve um projeto maior. Segundo o sócio da binacional (tailandesa/brasileira) TH BR Trading, Roberto Gaensly, o programa foi desenvolvido a pedido do governo tailandês e inclui três fases. “A idéia inicial é que o Brasil exporte etanol para a Tailândia por um período de até 3 anos, para que seja adicionado à gasolina.”

Em uma segunda etapa, segundo o executivo, a Tailândia quer importar tecnologia brasileira para a produção local de álcool e, depois, iniciar a exportação do combustível para demais países da Ásia. “A estimativa é de que a Tailândia possa importar até 700 mil litros de etanol por ano.” A Tailândia é hoje o terceiro maior exportador mundial de açúcar proveniente da cana.

Em defesa do projeto, Gaensly diz que o Brasil vai se beneficiar em todas as fases. “Primeiro, o País vai exportar etanol, depois venderá tecnologia e equipamentos e, por fim, poderá ganhar outros mercados com a difusão do álcool combustível.” Hoje, haverá uma discussão sobre o assunto da qual vão participar, além da TH BR e do primeiro-ministro tailandês, outras empresas e associações como a Ethanol Trading, Petrobras, Copersucar, União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (Unica) e a Dedini, especialista na montagem e elaboração de projetos para usinas de álcool.

A participação da Petrobras, segundo o executivo, é fundamental. “A empresa tem uma experiência de 30 anos no pró-alcool e será essencial para montarmos um programa tailandês para o combustível”, disse. Segundo Gaensly, há dois anos já houve um acordo bilateral para exportação de etanol que jamais saiu do papel, mas a história não deve se repetir. “A conjuntura é diferente. Temos a necessidade de cumprir o Protocolo de Quioto e o preço do petróleo em alta estimula a busca por fontes alternativas”, diz.

A necessidade de reduzir a emissão de gases também está por trás do interesse alemão no etanol brasileiro. O assunto começou a ser discutido no final de 2003, em Goiânia, na reunião da Comissão Brasil-Alemanha de Cooperação Econômica. A nova etapa das negociações, em Stuttgart, na semana que vem, ganhou força com uma decisão recente do parlamento alemão.

“O parlamento aprovou em maio um plano de controle de emissões para cumprir o Protocolo de Quioto, que regulamenta as negociações de compra de créditos de carbono”, disse Ingo Plöger, presidente do Fórum Empresarial Mercosul-União Européia. “O interesse em importar álcool combustível do Brasil já existia, mas a regulamentação vai acelerar as negociações, pois a Alemanha quer comprar créditos e o Brasil, vendê-los.”

Embora não haja nenhum levantamento feito, Plöger acredita que o mercado potencial alemão para o etanol possa ser de algo em torno de 1 bilhão de litros por ano. Outro fator que facilita os entendimentos é a existência do carro bicombustível. “A inovação ajuda, pois o nosso interesse é oferecer o etanol como opção para o consumidor alemão.”