Mercado

Campo pressiona inflação

Fora do foco principal das preocupações inflacionárias no primeiro quadrimestre deste ano, as cotações agrícolas no mercado doméstico tiveram forte influência sobre a alta dos preços ao consumidor em maio passado e deverão, de acordo com análise da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), permanecer no centro das atenções nos próximos meses.

Paulo Picchetti, coordenador da pesquisa do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) do Município de São Paulo da Fipe, disse que o grupo alimentos, diretamente influenciado pelas oscilações no campo, foi o principal fator de pressão para a alta do indicador no mês passado. A variação do IPC em maio será divulgada hoje. Na terceira quadrissemana do mês a alta foi de 0,49%, e o grupo alimentos registrou aumento de 0,7%.

Segundo ele, entre os produtos ligados aos agronegócios que mais subiram no varejo em maio estão tomate, mamão, açúcar, cebola e batata. Em entrevista ao Valor, Picchetti também mostrou-se preocupado com a variação positiva de 1,58% do índice de preços recebidos (IPR) pelos produtores agropecuários paulistas em maio. O IPR é pesquisado pelo Instituto de Economia Agrícola (IEA), vinculado à Secretaria de Agricultura do Estado.

Nelson Batista Martin, diretor do IEA, lembrou que a alta do IPR poderia ter sido até maior, não fosse uma desaceleração na quarta quadrissemana do mês, mas previu preços firmes no campo pelo menos até o terceiro trimestre. Ele lembra que o pico da colheita de grãos já passou, que a recente valorização do dólar tem impacto sobre produtos que também são exportados – caso do açúcar, por exemplo -, que as exportações de carnes estão aquecidas e que há sinais de recuperação de renda no país.

Essa recuperação ajudou a sustentar as cotações dos produtos de origem animal em maio. O grupo registrou variação positiva de 4,13% no mês, puxado por aves (8,33%), ovos (8,48%), leite (4,26%), suínos (2,35%) e boi gordo (1,69%). Aves, suínos e boi tiveram suporte das exportações, conforme Martin; o leite refletiu uma oferta menor em razão de uma estiagem no Sul e os preços dos ovos ainda se recuperaram de recentes retrações.

No grupo de produtos de origem vegetal – que, em média, subiu 0,16% no mês passado -, os maiores aumentos foram da cebola (40%) e do tomate (31,25%), por problemas climáticos pontuais. A batata, em alta no varejo, caiu no campo (26,67%). Nelson Martin também destacou a valorização de 15,3% do café, principalmente em decorrência da ocorrência de geadas em São Paulo, Paraná e Minas Gerais. Pelo mesmo motivo, as cotações da commodity subiram nas últimas semanas no mercado externo.

A soja, outro produto em queda internacional, recuou 9,57% no mercado paulista no mês passado. O algodão também caiu, 11,07%, graças ao aumento da oferta decorrente da entrada da safra de São Paulo e do Paraná.