A GranBio, companhia de biotecnologia controlada pela família Gradin, tem mais de US$ 1 bilhão já aprovado por seu conselho para novos projetos nos próximos anos, disse ao Valor o presidente e acionista da empresa, Bernardo Gradin. Em vias de pôr em operação sua primeira usina de processamento de etanol celulósico, a GranBio conta com outros quatro projetos aprovados, nos quais terá participação mínima de 50%.
Além disso, a empresa pode anunciar, nos próximos meses, uma nova parceria na área química, aos moldes do acordo de produção firmado com a Rhodia no ano passado. Está ainda conversando com produtores de celulose, que têm excedente de biomassa, com vistas a parcerias na produção de materiais renováveis. “Estamos olhando do etanol [de segunda geração] à nanocelulose, passando por químicos”, afirmou Gradin.
No Brasil, as duas maiores produtoras de celulose de eucalipto – Fibria e Suzano Papel e Celulose – já estão investindo nesse campo. A Fibria anunciou no fim de 2012 uma parceria com a americana Ensyn, que envolveu a compra de 6% do capital da companhia americana por US$ 20 milhões. O biocombustível da Ensyn, que detém tecnologia própria, pode ser usado em transportes e geração de energia. A Suzano, que já encampava pesquisas de uso alternativo de biomassa, comprou em 2010 a FuturaGene, empresa de biotecnologia com ações na bolsa de Londres.
Segundo Gradin, os recursos aprovados pelo conselho compreendem dinheiro próprio e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) – a BNDESPar comprou uma fatia de 15% da companhia por R$ 600 milhões -, além de dívida, incluindo financiamento do próprio banco de fomento, agências multilaterais e “trading companies”.
A GranBio, que pretende chegar a 2021 com produção anual de 1 bilhão de litros de etanol de segunda geração, a partir da operação de dez usinas, já deu o primeiro passo na área de químicos. Com a Rhodia, planeja produzir o bio n-butanol, usado em larga escala pela indústria química e na produção de tintas, a partir de palha e bagaço de cana-de-açúcar.
A empresa não divulga o valor do investimento – o cronograma de obras considera entre 18 e 24 meses, contados a partir deste ano. Fontes do mercado, porém, estimam em algumas centenas de milhões de dólares o desembolso num projeto dessa natureza. Ainda neste ano, contou Gradin, uma nova parceria, envolvendo outra categoria de produto químico, deve ser anunciada.
O ritmo de expansão nessa área, conforme Gradin, vai depender da atração de novos parceiros. Nesse sentido, já tem conversas em andamento com produtores de celulose e papel, que poderiam receber em suas fábricas uma unidade da GranBio – nos grandes complexos da indústria, é comum que fornecedores de insumos químicos e gases tenham uma base própria instalada. “Dessa forma, o produtor de celulose não precisa correr o risco do negócio”, afirmou ele.
Em etanol celulósico, a primeira usina da GranBio está em construção em Alagoas e resultou de uma parceria com a italiana Mossi & Ghisolfi (M&G), com investimento total de R$ 350 milhões. Segundo Gradin, a unidade iniciará operação “em dois ou três meses” e, apesar da tecnologia mais cara, informou que o custo de produção será até 35% menor do que o do etanol de primeira geração, cerca de R$ 1 por litro). “A ideia é exportar pelo menos 50%. Hoje, a Califórnia se apresenta como mercado muito atraente”.
A usina terá capacidade de fazer 82 milhões de toneladas por ano e, segundo Gradin, é a única dessa natureza no Hemisfério Sul.