Usinas

Câmbio e clima afetam grandes usinas

A variação cambial, preços mais baixos do açúcar e perdas por problemas climáticos afetaram o resultado de algumas companhias sucroalcooleiras que divulgaram seus balanços do 3º trimestre desta safra 2013/14, encerrado em 31 de dezembro do ano passado. As duas maiores empresas do segmento – Raízen Energia, controlada por Cosan e Shell, e Biosev, da multinacional francesa Louis Dreyfus -, registraram prejuízo no período. Já a São Martinho registrou lucro líquido.

Os menores volumes (e preços) de venda do açúcar no último trimestre do ano, aliados à variação cambial no período, foram determinantes no desempenho da Raízen Energia, que teve prejuízo líquido de R$ 115,4 milhões no trimestre, após lucrar R$ 164,3 milhões em igual intervalo do ciclo anterior, o 2012/13.

A receita líquida da companhia foi de R$ 2,1 bilhões no período, queda de 18,4% na mesma comparação. Só a receita vinda do açúcar caiu 29,9% no trimestre, para R$ 876,2 milhões. O desempenho refletiu o volume vendido de açúcar, 23% menor, e o preço médio 8,9% mais baixo, a R$ 934,9 por tonelada.

Já as despesas financeiras líquidas da Raízen Energia foram a R$ 240,1 milhões no trimestre, ante R$ 88,9 milhões no mesmo intervalo de 2013. Em comunicado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a empresa informou que esse desempenho foi consequência de perdas relacionadas à variação cambial, no montante de R$ 110,9 milhões. “Durante o terceiro trimestre da safra 2013/14, o real se desvalorizou 5%, enquanto no mesmo trimestre de 2012/13 essa desvalorização foi de 0,6%”, informou em comunicado.

Já a Biosev, cujos canaviais foram afetados por problemas climáticos no ano passado, informou um prejuízo líquido de R$ 203,7 milhões no 3º trimestre da temporada 2013/14, ante resultado líquido negativo de R$ 163,720 milhões nos mesmos três meses da safra passada.

A principal razão para o resultado, segundo a empresa, foi o não reconhecimento de um crédito de R$ 141,9 milhões de imposto de renda e contribuição social diferidos.

Além disso, no trimestre, o resultado financeiro líquido da empresa foi de R$ 159,4 milhões negativos, ante R$ 116 milhões de igual trimestre do ciclo passado. Segundo a empresa, essa piora refletiu principalmente a variação do dólar em relação ao real com efeito negativo (não caixa) de R$ 36,8 milhões, contra R$ 9,6 milhões negativos do mesmo trimestre do ano anterior.

Mas, operacionalmente, a empresa também recuou. O resultado da operação, medido pelo Ebitda (lucro antes de juros, impostos depreciação e amortização) ajustado com o valor justo dos ativos biológicos (canaviais) caiu 36% no trimestre, a R$ 258,579 milhões. No acumulado da safra 2013/14, o resultado operacional ajustado caiu 14,4%, a R$ 878,537 milhões.

Em julho do ano passado, os canaviais da empresa em Mato Grosso do Sul foram afetados por geadas e os do Nordeste, por estiagem, o que afetou o desempenho da operação. No terceiro trimestre de 2013/14, o teor de açúcar da cana foi de 122,7 quilos por tonelada, 10,6% de queda na comparação trimestral.

Nos nove meses da safra 2013/14, as usinas da Biosev processaram 29,1 milhões de toneladas de cana, dentro do guidance projetado após as perdas por geadas – entre 28,7 milhões e 30,1 milhões de toneladas. A empresa, liderada pelo executivo Rui Chammas, informou que espera apresentar números maiores de moagem ao fim da safra no Nordeste. Também ontem, a Biosev anunciou a troca do diretor de Relações com Investidores, que passa a ser o Paulo Prignolato, atual diretor financeiro da companhia.

Na contramão dos seus pares, o grupo São Martinho teve lucro líquido no trimestre – de R$ 32,9 milhões, ante R$ 7,3 milhões registrados em igual período de 2012/13. O presidente da companhia, Fábio Venturelli, explicou que o resultado foi consequência da menor despesa financeira – que caiu 55% no trimestre – e de um ganho positivo decorrente da variação cambial nas suas operações de exportação.

Operacionalmente, a empresa cresceu menos. O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) ajustado com o valor justo dos ativos biológicos foi de R$ 168,4 milhões no trimestre, 4,6% acima do registrado no mesmo intervalo do ano anterior. A margem Ebitda recuou 1,1 ponto percentual, a 39,6%, na mesma comparação. Segundo a companhia, houve uma antecipação das vendas de produtos nos dois primeiros trimestres da safra e, um volume menor foi faturado no terceiro.

No acumulado dos três trimestres de 2013/14, o resultado operacional cresceu mais. O Ebitda ajustado aumentou 22,4%, a R$ 618,907 milhões. A margem Ebitda, no entanto, manteve o recuo na comparação anual – de 0,7 ponto percentual – a 40,4%. Na safra 2013/14, a companhia moeu 15,6 milhões de toneladas de cana (+21%).