Mercado

Excesso de oferta e preços baixos preocupam usinas

Depois de três safras consecutivas de boa remuneração para açúcar e álcool, as usinas do Centro-Sul do país enfrentam, agora, uma fase turbulenta de preços baixos no mercado doméstico, comprometimento de margens e remuneração pouco atraente para as exportações. Pela primeira vez desde 1999, ano marcado por uma das piores crises do setor, as empresas voltaram a admitir que os ventos favoráveis a seus negócios estão soprando em outras bandas.

Os altos volumes de produção de açúcar e álcool ainda nas mãos das usinas, já considerados um “mico” nesta entressafra de preços baixos, segundo analistas ouvidos pelo Valor, refletem uma estratégia equivocada por parte dos empresários, que preferiram reter as vendas a partir do segundo semestre do ano passado, na expectativa de que as cotações ganhassem maior fôlego.

“A situação fica mais complicada para as usinas paulistas, que concentram a maior produção do país”, diz Júlio Maria Martins Borges, diretor da Job Economia e Planejamento. “As usinas do Paraná têm um perfil exportador”.

A estimativa da Job é que 25% da produção de açúcar ainda esteja com as usinas neste período de entressafra, quando tradicionalmente os volumes oscilam entre 10% e 15%. Levantamento da União da Agroindústria Canavieira do Estado de São Paulo (Unica) indica que o Centro-Sul produziu 20,3 milhões de toneladas de açúcar e 12,9 bilhões de litros de álcool na safra 2003/04, concluída em dezembro. O governo já estima para maio um estoque de passagem de álcool de cerca de 2 bilhões de litros.

No mercado interno, a retração da demanda por parte das indústrias de alimentos e bebidas é da ordem de 30% a 40% desde o início do ano, segundo Carlos Dornellas Filho, sócio da Nova Fase Corretora, especializada em açúcar e álcool. “São poucas as indústrias que trabalham com estoques hoje”, afirma o analista. As exportações estão remunerando de R$ 2 a R$ 3 a mais que as vendas no mercado doméstico e, com isso, são a melhor alternativa para as usinas no momento, de acordo com Dornellas.

Nas últimas semanas, os preços do açúcar em São Paulo (posto usina) chegaram a atingir R$ 17,50 por saca. Esta é a menor cotação para o período desde 1999, quando a média para a saca de açúcar estava em R$ 12,28, de acordo com o Cepea. Em relação a fevereiro do ano passado, quando os preços bateram recorde, a queda é de 60%. Para Borges, as atuais cotações já comprometem as margens das usinas.

No mercado internacional, não há, no momento, fundamentos para que os preços do açúcar se recuperem, mas ainda há uma expectativa de que os países asiáticos entrem no mercado. “Em agosto do ano passado, muitas usinas deixaram de exportar açúcar branco a US$ 155 a tonelada, na expectativa de que os preços atingissem US$ 200, o que não ocorreu. Hoje, a tonelada do produto está a US$ 123, com viés de baixa”, observa Dornellas.

Para o álcool, as margens ainda não foram comprometidas, pelo menos por enquanto. Segundo Ivan Bueno, que também é sócio da Nova Fase Corretora, “os preços do álcool têm oscilado muito no mesmo dia”. O analista lembra que as distribuidoras estão comprando da “mão para boca”, sem fazer estoques.