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Falta de chuva amplia atenção sobre reservatórios no Nordeste

O baixo nível dos reservatórios das hidrelétricas do Nordeste do país pode gerar dificuldades de suprimento de energia da região se as chuvas não vierem e manter altos os custos de energia elétrica, com forte uso de geração térmica.

A situação dos reservatórios em outras regiões do país não é considerada preocupante por agentes do setor, mas no Nordeste, onde o consumo está em expansão, o nível de 23,59 por cento, segundo dados atualizados na terça-feira, é um dos piores em mais de uma década para o início do período úmido e a perspectiva de chuvas no curto prazo está abaixo da média.

“A gente tem um problema crônico no Nordeste, resultado de um ano de seca….Possivelmente vai haver dificuldade de recomposição dos reservatórios, a não ser que chova acima da média histórica”, disse o coordenador do Grupo de Estudos do Setor de Energia Elétrica (Gesel) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Nivalde de Castro.

Ele não vê problema de suprimento de energia, mas tendência de manutenção de custos mais elevados em 2014, já que a geração térmica tende a ser mantida na região. “E caso a necessidade de demanda do Nordeste não possa ser suprida pelo aumento do reservatório da região, e se utilize água da região Sudeste, impactaria também o custo de geração do Sudeste ao longo do ano, via termelétricas”, completou.

Os reservatórios das hidrelétricas do Nordeste já estão sendo poupados pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS)–as usinas da região estão gerando menos que a sua capacidade e praticamente todas as térmicas locais estão ligadas– num esforço para economizar água nas represas para o próximo período seco, no ano que vem.

Ainda não é possível prever se haverá dificuldades em 2014, já que agora estamos no início do período úmido e as previsões de chuvas são bastante variáveis. Mas o presidente da Associação Brasileira de Companhias de Energia Elétrica (ABCE), Carlos Ribeiro, sugere que medidas para poupar ainda mais os reservatórios poderiam ser tomadas.

Para evitar maior queda do reservatório, uma opção seria reduzir a geração hidrelétrica na região ainda mais — o que exigiria maior transferência de energia elétrica de outras regiões para abastecer o Nordeste, já que a geração térmica no Nordeste está praticamente toda acionada.

Mas ao elevar o intercâmbio de energia para o Nordeste, o ONS teria que lidar com o risco de estresse do sistema de transmissão, o que poderia levar a um blecaute, como o ocorrido na região em agosto. “É uma situação de escolher a prioridade entre a operação energética ou elétrica”, disse Ribeiro, que já foi diretor de operação do ONS.

Ribeiro sugere que se oriente a população a reduzir o consumo de energia na região. Segundo ele, cada redução de 5 por cento no consumo significaria em elevação de 1 por cento ao mês no nível de reservatório da região, o que ajudaria a evitar problemas em 2014, caso a chuva não venha.

O diretor da Coppe da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Luiz Pinguelli Rosa, considera que a situação ainda não é alarmante, porque as chuvas ainda podem chegar. Mas os riscos de operação do sistema na região podem aumentar.

“No Nordeste, (o reservatório) está tão baixo que se tiverem problemas de chuva, a geração térmica deles é limitada, e se tiver limitação de transmissão também, porque já está havendo enorme transmissão do Sudeste/Cento-Oeste para o Nordeste … eles vão ficar em dificuldade”, disse.

Os principais reservatórios para a região Nordeste são Três Marias (MG), da Cemig, cujo nível de armazenamento está em 22,97 por cento, e Sobradinho (BA), da Chesf, cujo nível do reservatório está em 22,7 por cento.

A hidrelétrica Três Marias, segundo a Cemig, está gerando com 160 megawatts (MW), abaixo da capacidade total de 396 MW, para poupar o reservatório da usina, por orientação do ONS. Com essa geração, é garantida uma defluência mínima para atender a outros usos da água, incluindo requisitos ambientais e abastecimento da cidade de Pirapora (MG).

Segundo o engenheiro de Planejamento Hidroenergético da Cemig, Ivan Carneiro, as estimativas dos metereologistas são de que as chuvas que abastecem o reservatório fiquem abaixo da média até o fim do ano, melhorando no início de 2014.

O Nordeste aguarda ainda a entrada em operação de usinas eólicas, que esperam a conclusão de linhas de transmissão que as conectará ao sistema. A linha, de responsabilidade da Chesf, deve ficar pronta no início até março, segundo assessoria de imprensa da empresa.

O diretor-geral do ONS, Hermes Chipp, disse no início de outubro que as previsões de metereologistas apontavam para um período úmido melhor este ano, ante 2012.