A americana Monsanto desistiu de vender sementes transgênicas de soja na Argentina, confirmou ontem ao Valor, por telefone, Federico Ovejero, gerente de relações públicas e governamentais da multinacional naquele país. De acordo com ele, a decisão foi tomada há um mês e meio e poderá ser revogada caso mostrem-se eficazes as medidas que o governo argentino promete adotar para mitigar as vendas ilegais de sementes no mercado.
“Nesse momento, paramos de vender. Mas estamos otimistas na reversão do atual quadro de ilegalidade”, afirmou Ovejero. Ele calcula que 50% das vendas de sementes de soja na Argentina não respeitem as regulamentações sobre proteção de patentes em vigor no país, mas não revela as perdas ou o faturamento da Monsanto naquele mercado. De qualquer forma, Ovejero diz que os demais negócios da multinacional no vizinho – venda de agroquímicos e de sementes de milho, girassol e sorgo, principalmente – serão mantidas.
A Monsanto começou a explorar o mercado argentino de sementes de soja em 1996. De lá para cá, a soja transgênica “explodiu” no país, e hoje responde por mais de 90% da safra nacional – maior percentual de penetração do mundo, superior inclusive ao dos americanos, pioneiros no uso da biotecnologia. A safra argentina do grão deverá alcançar 36,5 milhões de toneladas nesta temporada 2003/04, de acordo com a última estimativa do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA).
As vendas ilegais de sementes de soja transgênica resistentes ao herbicida Roudup Ready (desenvolvidas pela Monsanto) são viáveis, segundo fontes do setor, porque mesmo em sua multiplicação a resistência da semente ao agroquímico é mantida. “Esta resistência é mantida por até dez gerações”, afirma um especialista. Essas mesmas fontes acreditam que a lei de proteção de cultivares em vigor no Brasil não permite que uma companhia de sementes tenha, no país, que enfrentar situação semelhantes à da Monsanto na Argentina.